domingo, 16 de novembro de 2014

Sobre Imigrantes que Lavam a Jato sua Gone Girl



  Assisti The Immigrant do diretor James Gray com a Cotillard atriz maravilhosa.

 Estou numa idade e fase da vida que sinto duas coisas principais ao ver um filme com uma atriz boa dessas: alívio por estarem fazendo algo bom e inveja /dor na de não ter sido EU a bonita encarnada naquele papel.  Belo papel feminino.

  A moça chega na América do Norte  depois de ter sido forçada (ou não), a fazer sexo com a galera no navio. É obrigada a virar prostituta num cabaret teatro. Junto com  várias outras.  Desde ali dá pra ver essa mania que até hoje tem os Estados Unidos tem de classificar as pessoas pela nacionalidade delas. Isso é o embrião do racismo na minha opinião.  Apontar: “Isso é coisa de polaco”  ou de russo, ou de o que for.  Penso que no Brasil é mais difícil classificar assim pois é um povo super miscigenado, mas ainda se faz isso também. Fala-se “coisa de baiano”, de gringo, de extraterrestre, etc.

  Deu pra ver como teatro é mesmo coisa de puta.  Sempre foi. Teatro, cabaret, coisa de puta, de bêbado, de rico,  pobre sem vergonha, trabalhador, ou seja a sociedade inteira de Nova York ia lá!  Menos as mulheres casadas. Tadinhas, a pior coisa nesse tempo devia ser casada com um homem mau. E todos pareciam bem maus. Viados inrustidos obrigados a ter uma fêmea em casa. Isso enlouquece qualquer um. Preferível ser puta que casada, pelo menos as putas trabalhavam no teatro. As mulheres tinham um medo danado dos homens, apanhar era absolutamente normal e ser casada era ter um dono.

  Mas falando sério, em Immigrant,  a relação entre a mocinha e o cafetão é de uma complexa e belíssima sensibilidade. Nem sempre quem  ama  faz tão bem ao ser amado, afinal quem é bom? Quem sabe a receita certa do bem? Esse foi o gênio do filme. Não há bons e maus. Há pessoas em determinadas situações. Como em Shakespeare, como na vida. Não se sabe quantos seriam capatazes e mocinhos. Se sabe de um mocinho quando o ser humano  é colocado naquela situação de mocinho. O mesmo para o vilão. Tudo bem que podemos ter uma idéia pela personalidade da pessoa, mas aí somos automaticamente  preconceituosos ao pensar assim.
“Arma  é coisa de quem mata.” Mas  a certeza de que é assassino, só quando ele passa pela experiência de matar alguém. Fulano pode matar Ciclano sem ter comprado uma arma,  ou nunca ter visto uma.  Pode fazer com as próprias mãos, ou com o que tiver por perto. Hamlet matou Polônio sem “saber”. Sem planejar vai. Achou que era um rato, não foi isso? Shakespeare é mesmo muito bom né , pessoal?

Mas falando sério de novo, o que me faz escrever hoje é como me impressiona o julgamento das pessoas. Esse filme não julga.  As pessoas julgam tudo e todos o tempo todo, sem se aprofundar.

   Também vi Gone Girl do diretor David Fincher, que mostra bem a sociedade americana julgadora maluca. Papel feminino também muito bom. O filme se passa nos dias de hoje mas a atitude da população num estado com pena de morte, me parecia a mesma dos viventes  da Idade Média que iam assistir felizes a guilhotina, aos enforcamentos, as bruxas pegando fogo...  Queria que os brasileiros fossem um pouco assim com os políticos e corruptores donos de empreiteiras. Linha dura dentro da lei contra corrupção. Estamos caminhando... Favor não confundir linha dura com ditadura. Obrigada.

  Eu particularmente, se fosse investigadora seria daquelas minunciosas, pacientes,  e talvez tivesse dificuldade.  Eu não julgo até ter absoluta certeza! Mesmo com uma confissão. O confesso pode estar enganado do que confessa ou ainda mentindo. O ser humano é muito complexo para  ter  absolutas certezas. Atitudes são mais fáceis de julgar. Roubou o dinheiro da Petrobrás pra montar um Lava a Jato? Cana. Ponto. Já  o espírito é infinito, os sentimentos e as intenções infindáveis,  impossíveis de classificar entre bom e mau. Não somos uma ciência exata. É por isso que o inferno continua super lotando de boas intenções e  más atitudes humanas.


sábado, 8 de novembro de 2014

Dúvidas

Foi na Rede Globo de Televisão, no Projac, Rio de Janeiro.  Tinha ido lá fazer o tal do registro, passo primeiro para o teste, passo esse que leva a um papel lá, fato que esse que se acontece melhora a carreira da titia. Ansiosa ou nervosa,  enquanto eu não gravava, fui tomar um café.  Há ali dentro uma parte para atores e pessoas que esperam alguma coisa.  Aquele era dia de debate político na TV.  Entro na parte onde há café e o atendente logo me pergunta com um super sotaque carioca:
-Crivella ou Pezão?
- Oi?
- Qual dos dois?
- Desculpa, sou de São Paulo.
- Pô, mas tem que ter opinião né?
-É. Mas eu não tenho, não os conheço. Eu só quero um cappuccino.
- Pequeno ou grande?
- Não tem médio?
- Só tem pequeno e grande ( e coloca os copos em cima do balcão para que eu os veja)
- Grande.
- Com ou sem canela?
-Ué. Com canela né.
-Com ou sem nutella?
- Capuccino com nutella?
- Opa! Vai querer?
- Nossa, que delícia... Mas aí não é mais cappuccino. Mas tudo bem, eu quero.
- Nutella argentina ou nacional?
-Cê tá me tirando né?
- Te tou o quê, gata?
-  Me tirando?
- Quer que tire a canela?
- Eu pensei que toda nutella fosse argentina.
( ele coloca no balcão a nutella tradicional e uma outra pasta de chocolate nacional)
-       Quero com nutella.
-        Qual das duas gata?
-       A que está escrito “Nutella”.
-       - Argentina! Ooolha o anti-nacionalismo, tem que valorizar o mercado interno pô! ( ele diz isso pois creio que todo mundo escolha nutella em vez de aquela pasta nacional que eu nem me recordo o nome. Então ele diz:  E a atriz vai de Dilma ou de Aécio?
-       - Você pretende por Dilma ou Aécio no meu café?
-       -Pô gata tá de sacanagem, mesmo né?
-       -De onde eu venho cê é que taria “me tirando”.
-       -Não que se posicionar né? Quer ficar em cima do muro que é melhor, sei qual é...
-       -Vou de Dilma, lógico. E como vce sabe que eu sou atriz? Posso ser dramaturga, cronista, feiticeira.
-       -As atrizes são assim menos assertivas sabe... Ficam no mundo da Lua. No seu caso no mundo do Lula. -O Capuccino é pra tomar aqui ou é pra viagem?
-       -Isso não é mais um cappuccino.
-       -Copo de plástico ou de isopor?
-       -Eu vou tomar aqui! Eu vou tomar aqui!
-       -Calma! É xícara então, ou quer no copo de vidro?
-       -Ai moço eu não sou boa com decisões, o que é melhor pra tomar isso?
   --É que tem a xícara da Nestlé e tem essa do Jô. Mas pra tomar na xícara do Jô fazer selfie e tal eu cobro uma caixinha, sabe como é…
- Eu quero na xícara grátis.
-       -Vai tomar só isso ou vai comer alguma coisa?
-       -Acho que posso comer alguma coisa.
-       -Doce ou salgado?
-       -Eu não sei! Eu não sei!
-       -Gata, tem que ter mais decisão na vida.
-       -Eu sei eu sei! (penso nas decisões da vida e começo a chorar)
-       - Tá nervosa por causa do teste?
-       -O teste ou o registro? ( ainda chorosa)
-       -É a primeira vez?
-       -É. ( parando de chorar)
-       -Então é registro.
-       -Nervosa ou ansiosa? ( tento me vingar)
-       -Já almoçou?
-       -Já.
-       -Tá cedo e quer tomar cappuccino, deve ser ansiedade então.
-       -Chega moço, por favor! Me dê uma direção, um rumo certo!
-       -Calma gata! Quer que eu decida o salgado pra voce?
-       -Eu não disse que queria salgado.
-       -Quer doce?
-       -Eu não sei...
-       -O cappuccino já é doce, leva um pão de queijo, já tá saindo do forno, falta cinco minutos.
-       -Acho que não tenho mais tempo, vou voltar pro estúdio. Que horas são?
-       -Aqui ou na igreja?
-       -Você tá mesmo de sacanagem comigo...  ( constato)

-       -Nada. Tô é te tirando mêrmo. Hehehe.