
Futebol é um esporte coletivo e é o mais popular do mundo.
Grande elenco, onze caras de cada lado correndo atrás daquela esfera de couro,
enquanto uma multidão de pessoas em volta fica torcendo contra ou favor. A
equipe ensaia como fazer gols e ganhar o jogo.
Tem um técnico que dirige tudo como será. Um designer criou a logo. A cada temporada cria-se novas variações de
texto e formas que obedecem as cores do time e que inovam cada ano mais em como
atrair mais público.
Uma outra vez, eu
soube que montariam um texto que gosto. E conhecendo a companhia e seu elenco,
fiquei curiosíssima para saber a escalação. Duas mulheres eram necessárias.
Qual delas seria a protagonista e qual a coadjuvante daquele jogo que eu queria
tanto ver como que iria ficar? O diretor ( incompetente) escolheu a esposa como
protagonista. E botou a melhor atriz da companhia para ter poucos minutos de
fala, enquanto a outra chata dominava o palco por mais de uma hora de show. Mas quando a bola estava com essa talentosa
coadjuvante... eu vibrava! E quando ela saia de cena eu levava os braços a
cruzar e a esperar por sua próxima entrada. Saí indginada do teatro. Enérgica,
xingando a incompetência técnica do diretor!

No nosso país existem dois principais tipos de protagonistas
das páginas de coluna social: artistas na maioria atores, e jogadores de
futebol. Alguns até acabam namorando entre si e geram capas de revistas por
anos a fio. Fora os dramas que rolam na vida dos jogadores, que é uma novela.
Tem jogador de futebol que aparece mais na TV que ator, e não digo jogando, mas
fazendo publicidade mesmo.
Eu não sabia que eu sabia de futebol. Descobri na Venezuela,
onde o esporte oficial é o beiseboll. Era beiseboll em tudo quanto era esquina.
Andava duas quadras e lá estava mais um jogando no quintal. Morei em Caracas por praticamente três anos
seguidos, entre idas e vindas. E peguei um ano de Copa do Mundo naquele país.
Um dia fui com venezuelanos assistir a um jogo as eliminatórias num pub, era
Venezuela e algum outro time tão ruim quanto, não me lembro qual. O jogo estava
ridículo. Eles estava muito mal, mesmo.
Porém, nunca me diverti tanto. Ver aquilo era muito melhor que muito show de
comédia por aí. Era desengonçado, cheio de erros emperrados, clownesco. De
repente do nada, sem motivo algum: um gol. E o locutor vibra: “goooolaaaaço!
Diós ! Que gol maravijoso!” e os venezuelanos comemoravam e diziam o quanto o
gol tinha sido bonito e bem elaborado! Eu não entendo como aquele gol aconteceu.
Até hoje rio lembrando da situação. Decorei a cena e as falas daquela ação. As
vezes, como aconteceu no jogo da Venezuela, foi um horror, mas deu certo.
As vezes o jogador é
bom mas não ouve o coleguinha, é fominha. Jogador de futebol fominha quer ser
estrela. Perde o gol, mas não perde a cena.
Um casal sai do teatro:
-Mas que coisa linda que vimos agora... diz a garota
-Como assim linda? Eu não entendi nada! Que maluquice esta
peça, não era pra ser Romeu e Julieta?
- Mas o cenário era lindo, o figurino a luz, aquele beijo em
boca de cena... lindo.
- Mas eles não tinham que contar uma história?
-Tinham.
- E contaram?
- Não. Mas eu amei. E você?
- ele torce o nariz e responde – Mmmmm, é, eu também gostei
daquele balão voador alienígena. Bonito né?
Dois amigos saem do jogo de futebol:
-Aquele técnico é um idiota! Zero a zero no final do segundo
tempo e ele deixou o Edfundo no banco?
Pra quê botar aquele perna de pau do Gaymar?
- Perna de pau? O cara deu um chapéu no galinha preta,
voltou, passou por entre as canetas do zagueiro e é perna de pau?
- Mas pra ganhar o jogo não tem que fazer gol? Você viu algum gol hoje?
- Não.
- E tá feliz?
-Na junção de pontos podemos deixar o gol para a próxima
partida e ainda podemos ganhar o campeonato. Imagina se ele fizesse aquilo que
o Gaymar fez e ainda marcasse o gol?
- É... não se pode ter tudo na vida...
- No jogo que vem, o Edfundo faz gol de penalti e ganhamos.
- Será?
- Tomara...
O futebol é mais
democrático, mas eu creio não existir nada mais coletivo que fazer teatro. Cada
um faz sua parte e todos, todos mesmo, são de suma importância. A humanidade sabe que só a união faz a força,
e clama por esta celebração, do coletivo. As pessoas viajam, se deslocam para
ver um espetáculo que mova seu espírito. O esporte exercita, movimenta, mexe. A
imaginação também.