quarta-feira, 8 de maio de 2013

A arte de criar caso




A primeira definição de arte, foi dada pelos gregos, significa técnica ( tτέχνη ). Logo, teatro seria a técnica ( ou arte) de representar um texto, música a técnica de fazer som em harmonia dentro de uma escala de tons, e assim por diante. Todas as outras, a de cozinhar, de fazer esculturas, de combinar cores e formas numa tela, a arquitetura a de construir edificações,  são todas por tanto, consideradas como arte, ao pé da letra. Arte para os gregos era técnica.
  Lá pro século 14 começou a ideia de arte ser uma coisa de gente abençoada, ou perturbada. Veio a atribuição de genialidade, coisa de gente especial que recebia inspiração divina e etc. Como se arte fosse uma coisa de outro mundo que vem não sei de onde pra dentro do artista, quando antes, pelos gregos, era uma coisa mais concreta mesmo.

 No português de hoje, técnica continua mais concreto, e arte apesar de ter esta origem concreta ainda tem para as pessoas este significado lúdico, o que é ótimo para o artista! Pensarem que sua obra do é única e inimaginável por outros. E é mesmo. Mais essa idéia com certeza Talvez ajude a criar mais público. Ou um público mais… encantado.

Embora exista crítico de arte, que mensura o quanto ela pode ser e pura ou não, boa ou ruim, técnica no nossa amada língua portuguesa é uma palavra e arte é outra, estão longe de ter significados idênticos.

  O mundo não pára de inventar novas técnicas para tudo. A arte de sobreviver. Cada um desenvolve a sua técnica. No entanto, muitas das consideradas arte, permanecem intactas. como o teatro, as plásticas... Mesmo meio a tantas modificações é possível distinguir a pureza das principais quando se apresentam a nós observadores.

  Todas as tardes, mas principalmente nos finais de semana, no parque do Ibirapuera, alguns artistas vão exibir suas técnicas. Como trata-se de um parque lotado de gente, ganha atenção aqueles que realmente sabem prender o público. Sabem como segurar as pessoas ali. Em vários outros parques isso se repete a milênios.

 Uma vez na pça da Recoleta em Buenos Aires, não conseguia deixar de fixar meus olhos num  palhaço pantomimo, que fazia suas apresentações uma seguida da outra, e eu assitsia a todas ( que eram as mesmas com pequenas diferenças por causa da platéia) sem desgrudar os olhos.
 Quem gosta de assistir Chaves, faz isso há muitos anos, desde criança e até hoje depois de adulto, assisti pela milésima reprise e ainda ri, contente. Muitas vezes se surpreende e gargalha da mesma cena que vê há tanto tempo e continua exatamente a mesma. Uma pantomimo numa praça ainda muda um pouquinho, mas Chaves é gravado! 

Menstruação é um negócio meio parecido. TPM é uma mentira que nosso corpo conta todo mês, no qual acreditamos piamente, a ponto de viver intensamente aquela mentira da tensão pré menstrual até ela acabar. Aí passa, parece que nem aconteceu (pra gente). No mês seguinte caímos na mesma lorota novamente, e assim é sucessivamente. Haja paciência para ver o mesmo filme e se impressionar todo mês.

  No Ibirapuera desde a minha infância uma estória se repete. É colocado um círculo de facas numa altura de um metro do chão, mais ou menos. Dois homens da Bahia ( ou de alguma cidade do nordeste) com seus corpos perfeitos anunciam que o show vai começar. Eles gritam alto para chamar o público, que receoso chega aos poucos para tentar entender do que se trata, e que diabos farão aqueles homens e aquelas facas.  Conforme as pessoas vão chegando, eles a posicionam em seus "acentos" que 'e em pé em volta do circulo que fazem no chão com água. E começam a contar de onde são, como chegaram a São Paulo, fazem piadas com uma ou outra pessoa da roda, ou entre si… Se alongam, mostram ao público o quanto é perigoso o que estão próximos e cada vez mais próximos de fazer. Pedem colaboração financeira. Um ou outro vai cedendo. Alguma moedas ou notas baixas vão sendo colocadas no chapéu. 
Conforme o montante cresce, aumenta também o tom da voz, o teor de excitação, destes performers.  Eles se alongam, aumentam o suspense, fazem uma acrobacia, tocam pandeiro, jogam um pouco de capoeira, cantam uma canção, e finalmente ameaçam atravessar o círculo levemente, mas não o fazem. Alegando ser necessário muita concentração e colaboração da plateia. Dizem o quanto é difícil  atravessar aquele circulo e por isso pedem que fechem mais a roda de observadores. E assim continuam neste truque até a escassez , muda a platéia e começa tudo de novo.

  O amontoado de gente provoca a furiosa curiosidade humana. E estes improvisadores , munidos de certo roteiro, desenvolveram muito bem a técnica de segurar a tensão no ar, na voz, e atrair novos curiosos. No nordeste ainda fazem com uma carapuça onde prometem o show inteiro de que uma cobra encantada ( ou rato treinado, ou uma mão amaldiçoada)  vai sair da carapuça para uma outra colocada em frente. Alguns até conseguem criar esta ilusão. Crianças costumas gostar desse.

 Quando vi no Central Park em Nova Iorque, não pude acreditar. Três homens negros chegaram num determinado ponto do famoso parque em NY e gritaram em coro com voz forte e determinada ordenando: " Hey! Voces todos! Parem agora mesmo tudo o que estiverem fazendo e olhem para nós! Pois vai começar o maior show da Terra!" Hipnotizadas, mesmo as pessoas que estavam assistindo musica clássica numa orquestra de um determinado palco ali perto instalado, saiam imediatamente em direção ao trio.  Alguns turistas com medo da força daqueles três, se aproximava devagar, com uma curiosidade perturbante, que os fazia ceder aos poucos, até não suportarem a sucção e cederem. A mesma autentica técnica dos nordestinos no Ibirapuera em Sao Paulo. Idêntica. Mas com um estilo diferente. 

  Estes eram negros do Harlem, vivem todos juntos numa casa, e estavam ali para conseguir alguns trocados no estilo hip hop nova-iorquino.Nada de circulo de facas ou carapuças, mas um radinho tocando black music em alto som. Mesma coisa, alongavam, e pediam " show your love" (mostrem seu amor) para que despejassem em um balde, moedas, notas de dólares, em troca de  uma ou outra, muito pouca acrobacia que faziam. Alguma dança facilmente encontrada em clubs onde se dança black, e nada mais. 

Fingiam estar se preparando para algo grande que nunca acontecia. A coisa grandiosa ali era que as pessoas não iam embora logo. Ficavam na espera de algo que não chegava.
Então o público cansava e ia embora. Chegavam outros e caiam na mesma "cilada"  e assim, o chapéu ( neste caso um balde estiloso) ia enchendo. 

Bela forma de passar a tarde no parque. Exercitando a arte de incitar expectativa e de prender a atenção e a curiosidade alheia. Fascinante como conseguiam isso com todo tipo de gente credo cor classe social, a arte é mesmo democrática, atingi nada mais que a todos.

 Alguns pagavam outros não mas nenhum passava despercebido e quase nenhum resistia a no mínimo uma paradinha pra olhar.

  Uma senhora, destas super turista da cabeça aos pés, munida de sua câmera ficou em ponto de foto por horas. Desconcertada sem saber o que fazer esperando pela foto do melhor show da terra anunciado. Em Nova Yorque eles usam um pouco de auto piedade também. É uma terra onde a mentira, ou o " ser enganado" é nada tolerado. Por isso quando as pessoas não queriam pagar ou não queriam fechar a roda, eles  (os atores , vou chamá-los assim), pretendem estar tristes e chateados e justificam ser por isso que não farão nada mesmo.

  Quando deu contei a esta senhora, da técnica, ela se sentiu  enganada. Eu expliquei que este roubo, era igual ao de um palhaço que lhe arranca uma gargalhada, ou de um filme triste que lhe faz debulhar em lagrimas, ou de uma peça bem escrita e bem encenada que assalta seus sentidos e pensamentos.  Lhe tentei dizer, que aqueles artistas haviam lhe aguçado a expectativa, a curiosidade, e ponto. Um pouco decepcionada, mas parecendo entender, ela deu um " dólar consciente"  sem ter visto nada acontecer, tirou uma foto, e foi embora. Afinal ( a célebre frase de mendigo): eles poderiam estar roubando, matando sequestrando, mas não estavam mendigando! Desenvolveram a arte de segurar as pessoas. De lhes causar expectativa. 

Tenho comigo que nada de mais muito interessante que aquilo aconteceu a ela depois daquele show naquele dia.

  Espero não ter feito como a formiga que pergunta  a  centopéia como é que ela dança, e quando ela responde nunca mais consegue voltar a dançar. Pois disse o frances que escreveu essa fábula, que quando se começa a pensar naquilo tecnicamente demais  em arte, no sentido de saber exatamente no protocolo como aquele bailado se deu, perde-se imediatamente a graça, que é mais intuitiva, artística. 

Eu acho que se pode combinar os dois! O compreender e o sentir, pois como a TPM, por mais que seja cientificamente desvendada, o que ela causa, continua a se repetir, evitando-a ou não, lá está!
 E cá entre nós, quando é arte mesmo, e a técnica é bem feita, não nos cansa. Nos agrada, alivia, agita. Pode reprisar mil vezes que a catarse será a mesma e a reminiscência ainda mais viva.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Cidade reflete cidadão (NYC- segunda semana)

  Ontem vi a cena mais catártica de Nova Iorque para mim até agora. Um husky siberiano puxava rua acima um cara em seu skate no Central Park! Me lembrou Larusha, minha amada e falecida husky siberiana, ela me puxava em meus patins como se eu fosse um trenó, sem o mínimo esforço.  Afinal os antepassados dela faziam isso da vida, puxar trenós. Os cavalos aqui trabalham puxando carruagens desde o século retrasado, mas hoje, são para passearem os turistas, conduzidos pelos imigrantes que no caminho vão contando a história da cidade.
  Vejo por aqui  todo tipo de cachorrinhos e cachorrões, muitas diferentes raças, a maioria fofas e peludas. E de fato são parecidos com seus donos, tanto na figura como na personalidade. Parece que nas grandes metrópoles as pessoas são mais cercadas de gente, porém são mais solitárias, e talvez por isso os cães, famosos pela fama de melhores amigos do homem, façam tanto sucesso por aqui.

  Eu não gosto de comprar animais pois sei que existe um monte abandonado. A Larusha era imigrante em casa. Tinha sido de outra família e nos foi doada já grande, porque os donos foram migrar para Miami e não queriam levá-la.

   As pessoas acabam comprando pois procuram  uma raça que combine com elas, com seu estilo de vida e personalidade.  E aqui tem gente de todo tipo possível imaginável, e para tanto, cachorros de todas as raças. É lei castrar todo e qualquer bichinho, se quiser ter um. As ONGs que cuidam dos abandonados, são deveras competentes, pois não há um sequer na rua.


    Vi uma peça iraniana, passada em Nova Iorque , com atuação de libanesa, americano do Texas ( que significa “terras” em espanhol) , mais outros atores gringos, que na verdade são igualmente new yorkers.

   Nova iorquinos  são americanos ou não, que descendem de tudo quanto é canto. Imigrantes que ficaram ou vão ficar, ou que os pais ficaram, são a maioria. Do mundo inteiro, mas nenhum é miscigenado. Tem índio e negro, mas não se vê mulato ou mameluco. Tem chinês, coreano e japonês, não vi niseis. É fácil olhar um americano russo, ou irlandês, polonês, alemão, e saber exatamente, embora parecidos, qual é a casa dos antepassados dele. Se houver mistura é muito sutil, pouca.

  Larusha  era branca com capa marrom, olhos quase brancos de tão azul claro, era pura, nos deram com pedigree e árvore genealógica.  Os que tem aqui também são puros. Muito amáveis pois se misturam, vão caminhar juntos com o mesmo dog walker em Central Park, obedecem as mesma leis, comem comida macrobiótica, só não cruzam entre si. Se cumprimentam com alegria. Vivem juntos há muitos anos em harmonia e democracia, afinal nada mal esta cidade, é bom mesmo aceitar as regras e viver bem pra caramba assim mesmo.

   Percebi gente que mora aqui há décadas, mas só tem amigos mesmo (desses que vão na casa da gente com ou sem festa) do  país de origem.

  Minha mãe que me perdoe por isso mas eu amei mais a Larusha do que a Giuli, cachorrinha que me viu nascer. Por que a Larusha me conheceu na fase do sonho, quando eu era adolescente, estava fazendo meus primeiros planos de vida.  Mais tarde cheguei até a fazer kite roller com o patins, porque antes eu fora treinada pelos músculos de Larusha que me puxavam como trenó pelo parque com aquela classe e energia para correr sem igual. Quando Larusha escapava, não parava mais de correr, nem pra olhava pra trás. Ela pegava a Raposo Tavares, era impressionante a força e rapidez. Pra alcançá-la tinha que pegar carro.


   Uma vez no cio, indomável Larusha fugiu para bem longe. Acho que no fundo ela sentia falta de família anterior. Foi parar no km 30 da Raposo, já em outra cidade. Morávamos no Bonfa que é no km 12.  Lá estava ela,  já em Cotia e prenha de um vira-lata. Foram 5 lindos filhotes iguaizinhos a ela, não puxaram nada ao pai, um negão.

    Não pode dar comida aos esquilos. Eu amei esses esquilos, mais que os cachorros, queria um deles pra mim. Pistache é alimento de esquilo, não vai fazer mal. Levo todo dia um punhado pra eles, pra tentar fazer amizade, mas eles pegam o pistache, comem e vazam, ansiosos. Esquilos são como os nova iorquinos viciados em café, andam com seu copo cheio na mão pois não há tempo para sentar e tomar, ansiosos, trabalhadores, com pressa.

  Então fomos no Riverside park, eu e um esquilinho velho.  Todos cachorrinhos na coleira, porque soltar é proibido.  Um especial, peludão, parecia a Priscila da Tv Colosso, veio todo meigo. Apareceu do nada! Puxou o dono pela trela e nos veio dar um “hello”! Latiu e inglês como se nos cumprimentasse! Feliz por estar tocando pela primeira vez um dog desconhecido no parque. Abracei, dei carinho, e o dono disse em inglês irônico: "ele não tem carinho e casa por isso vem aqui para conseguir afeição alheia".  Eu respondi em inglês de turista, " Que nada, ele só quer fazer novos amigos. Como eu e meu amigo esquilo".

Warnings (NYC- primeira semana)


Fique longe das portas automáticas
Limpe todo e qualquer dejeto de seu cachorro
Olhe para os dois lados antes atravessar
Tenha certeza de onde se encontram todos seus pertences a todo instante.
Use tennis com amortecedor. Proteja seus tornozelos e joelhos.
Beba água.
Coma saudavelmente.     
Mantenha distância segura.
Vende-se pílulas para dormir, para ter disposição durante o dia, e para melhor desempenho sexual a qualquer horário.
Apresente prescrição antes de pegar a fila para a compra.
Vende –se mais pílulas para antes de comer lactose e derivados. Para depois de comer proteínas e carboidratos e para antes e depois de beber álcool.
Não é permitido tomar álcool nas ruas, nem fumar em ambientes públicos, principalmente na frente de crianças
É terminantemente obrigatório pagar as taxas e as gorgetas. E anotá-las no campo abaixo.
Identifique-se. Sempre.
Não tire fotos nem antes, durante ou depois do espetáculo, nem mesmo do teatro vazio, nem do lustre ou das poltronas. E por favor não peçam para abrir exceção. Não abriremos. Obrigado.
Use salva vidas,cinto de segurança, guarda-chuva, e sente-se enquanto o barco estiver em movimento.
Mantenha a direita no caso de o parque estar lotado
Não alimente os esquilos
Não dê esmolas
Não fure fila.
Não pise na grama. Não pise, grama.
Não peça ajuda a estranhos, chame um responsável pelo local.
Sua mala foi feita por você mesmo? Mais alguém tocou em sua bagagem na sua vinda para cá?
Segure nas barras de segurança durante o percurso deste trem
Cuidado com os pés e as mãos nas escadas rolantes
Em caso de travar o elevador, não entre em pânico.
Obedeça as normas de segurança do local.
Não é permitido experimentar a comida antes de comprá-la.
Por favor não insista.

Não atravesse fora da faixa.
Compre seguro de vida, seguro de saúde, e nunca diga a ninguém a frase: “pode segurar isto um instante, por favor?”
Guarde sua senha em locais de acesso pessoal exclusivo
Não pergunte se a pessoa tem isqueiro. Ela pode responder: “tenho sim e você?”
Tenha dinheiro mais que suficiente para estar aqui. E comprove-o.
O senhor leu e compreendeu tudo que aqui está escrito? Alguma dúvida?
Assine aqui dizendo que leu, que concorda e aceita todas as regras desta viagem.
E claro, seja muito bem vindo a Terra da Liberdade.


domingo, 24 de março de 2013

Futebol é um espetáculo, teatro é jogo







  Um diretor russo veio ao Brasil conhecer o teatro daqui. Veio para um espetáculo específico. Ele já sabia da nossa língua, do grupo que visitara e do texto que fora assistir. Na verdade esse texto era de muito conhecimento dele.  Já havia montado, teorizado sobre, ganhado prêmio por, e tudo mais. Um especialista. O que deixava o grupo bem nervoso. Receber a “visita” de um cara desse é até mais tenso do que a do mais crítico dos críticos! Ele senta na primeira fila. Conforme a peça vai se desenrolando, ele vai se enformigando na cadeira. Quando um ator termina de dar a fala esperada, ele leva a mão na testa  e morde o lábio “mmmff!”. A fala continua e ele com o queixo para cima, entreolha e solta um “Uhh!!”,  como quem diz: quase! Na trave! Continua vendo a peça com muita atenção, aflito. O clima da cena esquenta e então num sentido apreensivo ele diz “No! No! no!” , desesperado.  Baixa a cabeça entre os joelhos, não querendo ver o que está acontecendo. Desta posição ele vai abrindo os dedos que fechavam a sua visão, e aos poucos volta  a acompanhar o lance. Atento, dispara um “ssss!” pra dentro como se sentisse junto a dor do ator e do personagem . Nos último minutos do segundo ato ele já está mais calmo. “Ufa”!  Termina a peça ele solta um muxoxo   “tsc...” E sai da sala com o restante da platéia, pensativo e suspirante. Como se seu time tivesse perdido uma partida. No camarim os atores comemoram os acertos e lamentam os erros. Lembram as estratégias e refletem se conseguiram atenderam as expectativas da torcida, que hoje estava ansiosa por acertos.   

  Futebol é um esporte coletivo e é o mais popular do mundo. Grande elenco, onze caras de cada lado correndo atrás daquela esfera de couro, enquanto uma multidão de pessoas em volta fica torcendo contra ou favor. A equipe ensaia como fazer gols e ganhar o jogo.  Tem um técnico que dirige tudo como será. Um designer criou a logo.  A cada temporada cria-se novas variações de texto e formas que obedecem as cores do time e que inovam cada ano mais em como atrair mais público.

  Uma outra vez, eu soube que montariam um texto que gosto. E conhecendo a companhia e seu elenco, fiquei curiosíssima para saber a escalação. Duas mulheres eram necessárias. Qual delas seria a protagonista e qual a coadjuvante daquele jogo que eu queria tanto ver como que iria ficar? O diretor ( incompetente) escolheu a esposa como protagonista. E botou a melhor atriz da companhia para ter poucos minutos de fala, enquanto a outra chata dominava o palco por mais de uma hora de show.  Mas quando a bola estava com essa talentosa coadjuvante... eu vibrava! E quando ela saia de cena eu levava os braços a cruzar e a esperar por sua próxima entrada. Saí indginada do teatro. Enérgica, xingando a incompetência técnica do diretor!
  As vezes o ator jogador é bom, mas o diretor não extraiu tudo o que ele podia.  Por isso que existem mil técnicos de futebol em butecos. Como público que está de fora, nos parece evidente o que seria melhor ter feito.

  No nosso país existem dois principais tipos de protagonistas das páginas de coluna social: artistas na maioria atores, e jogadores de futebol. Alguns até acabam namorando entre si e geram capas de revistas por anos a fio. Fora os dramas que rolam na vida dos jogadores, que é uma novela. Tem jogador de futebol que aparece mais na TV que ator, e não digo jogando, mas fazendo publicidade mesmo.

  Eu não sabia que eu sabia de futebol. Descobri na Venezuela, onde o esporte oficial é o beiseboll. Era beiseboll em tudo quanto era esquina. Andava duas quadras e lá estava mais um jogando no quintal. Morei  em Caracas por praticamente três anos seguidos, entre idas e vindas. E peguei um ano de Copa do Mundo naquele país.
 Um dia fui com venezuelanos assistir a um jogo as eliminatórias num pub, era Venezuela e algum outro time tão ruim quanto, não me lembro qual. O jogo estava ridículo.  Eles estava muito mal, mesmo. Porém, nunca me diverti tanto. Ver aquilo era muito melhor que muito show de comédia por aí. Era desengonçado, cheio de erros emperrados, clownesco. De repente do nada, sem motivo algum: um gol. E o locutor vibra: “goooolaaaaço! Diós ! Que gol maravijoso!” e os venezuelanos comemoravam e diziam o quanto o gol tinha sido bonito e bem elaborado! Eu não entendo como aquele gol aconteceu. Até hoje rio lembrando da situação. Decorei a cena e as falas daquela ação. As vezes, como aconteceu no jogo da Venezuela, foi um horror,  mas deu certo.
  As vezes o jogador é bom mas não ouve o coleguinha, é fominha. Jogador de futebol fominha quer ser estrela. Perde o gol, mas não perde a cena.

Um casal sai do teatro:

-Mas que coisa linda que vimos agora... diz a garota
-Como assim linda? Eu não entendi nada! Que maluquice esta peça, não era pra ser Romeu e Julieta?
- Mas o cenário era lindo, o figurino a luz, aquele beijo em boca de cena... lindo.
- Mas eles não tinham que contar uma história?
-Tinham.
- E contaram?
- Não. Mas eu amei. E você?
- ele torce o nariz e responde – Mmmmm, é, eu também gostei daquele balão voador alienígena. Bonito né?


Dois amigos saem do jogo de futebol:

-Aquele técnico é um idiota! Zero a zero no final do segundo tempo e  ele deixou o Edfundo no banco? Pra quê botar aquele perna de pau do Gaymar?
- Perna de pau? O cara deu um chapéu no galinha preta, voltou, passou por entre as canetas do zagueiro e  é perna de pau?
- Mas pra ganhar o jogo não tem que fazer gol?  Você viu algum gol hoje?
- Não.
- E tá feliz?
-Na junção de pontos podemos deixar o gol para a próxima partida e ainda podemos ganhar o campeonato. Imagina se ele fizesse aquilo que o Gaymar fez e ainda marcasse o gol?
- É... não se pode ter tudo na vida...
- No jogo que vem, o Edfundo faz gol de penalti e ganhamos.
- Será?
- Tomara...

  O futebol é mais democrático, mas eu creio não existir nada mais coletivo que fazer teatro. Cada um faz sua parte e todos, todos mesmo, são de suma importância.  A humanidade sabe que só a união faz a força, e clama por esta celebração, do coletivo. As pessoas viajam, se deslocam para ver um espetáculo que mova seu espírito. O esporte exercita, movimenta, mexe. A imaginação também. 

sexta-feira, 8 de março de 2013

Psicomanicuroterapeuta




  Manicures sabem tudo sobre homens. E sobre a vida! Entre elas existem as casadas , viúvas, mães, avós, e mesmos as solteiras, periguetes, são todas ótimas ouvintes e muito boas conselheiras. Tem manicure mais bem informada


que o próprio jornal, e contam as novidades com mais vontade que as apresentadoras de TV.
  Já tive que trocar de manicures inúmeras vezes, pois algumas se tornam perigosas. Sabem demais, fofocam muito aí me irrita e eu troco. O contrário também acontece. Já fui expulsa do salão pela manicure/ pedicure que me pediu “desculpas” mas  não iria mais me atender.  Me dispensou com veemência esbravejando: “O que vc fez com a sua mão? E com seu pé? Está tudo roído horroroso, não vou mais te atender. Procure um psicólogo e jogue seu alicate fora. Nunca vi se cortar desse jeito... Atendo mais não, enquanto não parar com isso.” Desolada fui evidentemente embora, e acabei sendo acolhida por outra que sabia um pouco mais sobre gente doida que corta e rói unhas. Uma psicomanicuroterapeuta. Essa  me atendeu e ainda conseguiu consertar o estrago que eu tinha feito, deixando meus pés e mão razoavelmente apresentáveis. E não me deu bronca. Mas palestrou sobre esta mania de roer.


  Era uma vez Jaqueline. Além de manicure e pedicure exemplar, era criativa, cuidadosa e limpa, mas o seu maior o diferencial era o de ser praticamente uma podóloga. Ela nem cobrava por isso devidamente. Não tinha feito “curso” de podologia,  somente era mais cuidadosa e talentosa.
   Certa vez ela conseguiu desencravar a unha de Josué, cliente que lhe ficou eternamente grato pelo alívio que sentia. E maravilhado pela massagem nos pés que ela lhe aplicou. Porém quando ela fez isso, não havia o libertado definitivamente do incômodo. Deixou a unha desencravada, mas provisoriamente, de modo que quando voltasse a crescer, encravaria de novo.  Ela tinha a técnica e instrumento para desviar a unha da ferida o libertando para sempre. Mas preferiu só aliviá-lo e manter a unha em direção da parte defeituosa de seu dedo, para que ele fosse obrigado a voltar. E voltava.  Sempre que crescia a unha e ela voltava a incomodar, Josué se aliviava da dor, e se deleitava com a massagem e o serviço bem feito de Jaqueline.
 Ela dispunha de qualquer horário para atendê-lo, a hora que fosse. Fazia-lhe o chá que gostava, comprava as bolachinhas com geléia. Quando na milésima visita Josué, o cliente querido, a indagou:
- Mas por que diabos será que esse problema sempre volta? Tenho o dedo defeituoso?
- Seu dedo é perfeito como o senhor.
- Como?- ela o fita nos olhos e diz com seriedade e firmeza:
- Case-se comigo e eu te livro disso para sempre.
Surpreso mas não tanto assim, Josué voltou na semana seguinte. Ela o esperava com esmalte branco, com vestido também branco e havia feito maquiagem de noiva. Ele botou no salão mesmo, um anel de noivado na anelar direito de Jaqueline. Feliz e com lágrimas nos olhos, ela o sentou cuidadosamente, cortou rapidamente um desnível de pele do dedo do pé dele, com um instrumento especial que tinha guardado, e disse:
-Agora pode crescer que não encrava mais.- ele a olhou com ternura e respondeu:
-  Agora nós vamos casar, e eu vou ter massagens nos pés todos os dias?
- Uma vez por semana. Se for mesmo bom marido.  -  E se casaram.
A minha manicure terminou minhas unhas novas, vermelhas, e como já me conhece, logo já disse.
- Fique quieta! Cuidado para não borrar, que eu fiz duas camadas.
- Oh não!
- Não acredito, você borrou a unha postiça? Droga, é bem pior que refazer unha normal...
-Não borrei não! Só lembrei que fiquei de cozinhar pro meu namorido hoje... E sem postiça já acho difícil, imagine com ela...
- É verdade você casou né? Namorido. É casada só não tá de aliança ainda.
- É. Mais ou menos. – ela me olhava pensando e séria.
- Se vai ser mulher casada não tem mais de roer unha por menor que seja, tem que ficar bonita e do jeito que ela realmente é.- Pensei “pronto mais uma que não vai mais querer me atender”
- Não vou mais te botar postiça.-  (pensei “bingo”) – E ainda bem que sua mão é bonita de qualquer jeito, e que você sabe, ou tenta  cozinhar. Se não ele ia largar você. Uma coisa ou outra né fia?
- O que quer dizer com isso? Como assim?- não estava entendendo nada.
- Nosso tempo acabou. Te espero na semana que vem. – E me deu a fichinha pra pagar.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Guarda-chuva e óculos de sol




  Eu não gosto de levá-lo porque eu sempre esqueço. É como isqueiro: comprar e perder. Quando no dia, a combinação é chuva fina e densa, mais vento forte lateral, o guarda-chuva só serve como cone perfeito para ajudar a molhar as calças jeans, mais certeiramente do que se estivesse sem ele.  Subo munida do guarda-chuva as escadas do edifício Copan.  E por lá fiquei depois de meus afazeres, até a chuva passar. Forte e densa. Quando passa, saio e dou de cara com sol forte entre nuvens, com garoa . “Here comes the sun”dos Beatles toca no meu telefone, bem na hora. Vejo cada paulistano segurando de forma diferente o seu guarda-chuva. Um debaixo do braço, outro na mão, tinha um que parecia uma metralhadora nos braços do rapaz.
  Sampa sempre cheia de gente que vem e que vai, motorizadas ou não. Muda o tempo todo o clima, a paisagem. E o próprio tempo. Tem mais cinco minutos pra um cigarro? As tais margens plácidas ditas no nosso hino nacional, não se aplicam a torrencial que se forma nas ladeiras. Mas talvez se assemelhe as poças no chão que vão se formando, várias, de diferentes profundidades,  vão secando aos poucos.  Cedem o chão duro cada dia e noite mais, e mais um pouco. Pelo vento, pela água, pela pegada humana, pela própria terra e Terra que não para de se movimentar nunca. Várias pocinhas e poçonas que parecem lagos calmos com gotinhas a fazer ondinhas. Passeio por elas com cuidado e um tropeço novo. Mesmo passando pelo “conhecido” lugar de todos os dias. O velho conhecido é novo todo dia. Como nós,  como música, a mesma canção cada vez que tocada de novo é outra. Como tudo.
 Ainda cautelosos com a nova velha rua, os pedestres voltam a dominar as  calçadas, saem aos poucos de seus abrigos e seguem vorazes em sua jornada paulistana. Com seus figurinos, celulares, automóveis. Os cigarros acesos pipocam, inúmeros depois que a chuva passa. O ar que está limpo pela chuva,imediatamente começa a receber uma e outra fumacinha no ar. Como muda logo o cenário de São Paulo a cada minuto. Segundo!  Parece musical americano, troca um cenário esplendoroso por outro mais esplendoroso e rico ainda.  Um cidadão confia na trégua do céu e desce a rua Augusta com projeto de papel na mão, nem garoa há mais. Trocam seus guarda-chuvas por óculos de sol. A moça mais esperta ainda, enfia um tennis encharcado na bolsa de plástico e bota sandália aberta e alta. Subindo meu trajeto até o ponto de ônibus passo por uma de minhas favoritas: Rua João Guimarães Rosa. Acompanhada de um lento e persistente barulho de trator que sobe comigo, ao meu passo e vira nesta rua para funcionar em alguma das tantas obras que martelam em cada esquina. Ao lembrar do escritor, lembro do céu do sertão que ele descreve tão bem. E contemplo o nosso. O meu. Lotado de nuvens que logo vão dissipar mas não tão fugazmente como no nordeste. São mais pesadas, deslocam densamente, como os carros na Marginal lotada numa sexta-feira de feriado.
 Gotinhas de água voltam a cair em forma de garoa sobre o óculos. Terá um pára-brisa? E precisa? Tiro o óculos e ponho boné. As bolsas dos cidadãos paulistanos, são como a mala do gato Félix.

Eu ía passar o aniversário de São Paulo no nordeste. Mas como a lei de Murphy existe e é atuante, apareceu um trabalho urgente para mim. Algo que não podia esperar eu voltar no feriado. : “Vamos filmar no final de semana, e preparar tudo no feriado. Este filme é pra ontem!”. Até hoje não consegui entender o por quê de em publicidade tudo ser para ontem. Ou seja, já acordamos com 24hs de atraso. Tenho vontade de responder: “se era pra ontem, deviam ter me passado ante-ontem e hoje estaria pronto. Ou talvez amanhã.  Por que em São Paulo as pessoas sempre estão atrasadas? Respondo: pois o que estão fazendo hoje ,  era pra ontem!


 Aonde foi parar o  casarão que estava aqui? Eu juro que estava aqui, ontem. Quer dizer, semana passada. Este final de semana se não me engano e sumiu! Agora tem tapumes coloridos ou com fotos da São Paulo antiga, e aqui vai subir mais um arranha-céu. Poxa, podiam ter nos avisado, assim viríamos nos despedir do belo casarão. Tem de se amar São Paulo como se não houvesse amanhã. Porque amanhã ela será outra. Como no joguinho tétris. Como no jogo banco imobiliário, em uma rodada, cai uma chuva, sai um sol e já subiram novos hotéis.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Quem tem medo de dia ensolarado?


 Um dia antes fui assistir a peça “Disney Killer”. Boa. Tá em cartaz no centro cultural Vergueiro, num galpão sinistro, que ajuda no clima também sinistro da peça.

 As peças de teatro geralmente falam de mil coisas, além do  assunto evidentemente representado ali. Eu sempre aprendi muito sobre gente e coisas de gente indo assistí-las. Além de muitas vezes ter funcionado como terapia.
 Essa falava, dentre outras coisas , sobre o medo. Eu detesto gente muito medrosa. Me dava agonia danada  ver a personagem que era assim. Viciada nos próprios medos.

 Uma noite antes assisti um programa de televisão apresentado pelo Mojica, grande cineasta e pesquisador de medos das pessoas, ele é o cara dos filmes de terror: o Zé do Caixão. Ele fez uma experiência que me deu arrepios a ponto e eu desligar a TV e ficar em silêncio na sala, atônita.  A moça estava de olhos vendados e ouvia o som de um instrumento grave, semelhante ao saxofone, porém mais denso, e um lento amedrontador. A música deste instrumento (desculpem não saber o nome daquele tipo de sax/corneta) , causava uma tensão, um clima pesado, arrastado.  De repente a câmera me mostra bem próximo da lente, o close de uma lesma. Ela se aproximava do rosto da mulher vendada. E com aquele som. Que horror. Não pude terminar de ver aquilo.
   Acho que este é o único medo fobia absurda que tenho. Me domina este medo. Aquele bicho e os parentes dele. Ouvi dizer que ela não existia no Brasil. Que um francês sádico maluco, trouxe elas para fazer criadouro e vender scargots. Que idéia idiota. O imbecil desistiu disso, voltou para França e as deixou aqui procriando no calor do Brasil. Elas fugiram dos criadouros e foram viver nos nossos rios. E já morreu gente de pegar a doença que aquela maldita gosmenta deixa nos rios e pode atacar o pâncreas, e outros órgãos de filtragem que tem o corpo. Um horror.

  Fora “isso” sempre fui a menina moleca mais corajosa que eu já conheci. Só andava com meninos e fazia mil maluquices. Não tenho medo de altura, de velocidade, de sapo, de cobra, buraco, armadilha, nada. Só de lesma.

 Uma vez estava num sítio que ia sempre com a minha família. Tinha uma égua no celeiro, se chamava Boneca. A ordem era não mexer com ela. Eu tinha menos de 10 anos e desobedeci, seqüestrando Boneca sem cela, e cavalguei pelo sítio. A bichinha disparou.  Me levou longe da casa, do celeiro e cavalgava a ponto de meus cabelos voarem e meu corpo em cima dela também. Determinado momento ela parou, pois não podia seguir aonde a mata fechava . Ela brecou. Respeitando as leis na inércia, eu voei para frente, quase quebrando a canela na raiz de uma árvore. Eu mal enxergava com a tanta dor que sentia. Quando tenho muita dor não enxergo direito! A imagem foi voltando e eu enxerguei meu pai, homem bravo e grande. Naquela época maior ainda. Eu comecei a negociar com ele que não brigasse muito comigo pois eu já mal conseguia ficar em pé de tanta dor, e esse poderia ser meu castigo. Depois de um tempo me olhando em silêncio o meu desespero, meu pai mandou eu buscar a Boneca. Por sorte ela estava perto. Então ele mandou eu subir na Boneca e levá-la de volta ao celeiro lá longe.
- Sem a cela?




-Não foi assim que voce a trouxe até aqui? - por que ele estava fazendo aquilo? Me pareceu um castigo terrível. Eu estava com muito medo dela, que suava, estava cansada e havia me derrubado no chão! Ele continuou: -  Se voce não subir nela agora e levá-la de volta ao celeiro,  vai ser pra sempre uma menina medrosa, vai ter medo de cavalos.
 Eu nunca tinha cavalgado antes, tinha sido a primeira vez.  Eu  com dor e o coração disparado . Ele me ajudou a subir, e voltamos para o celeiro em silêncio. Continuei sendo uma menina corajosa.
  

 Meu pai tinha métodos estranhos, uma vez me afogou na praia e disse que assim eu aprenderia mais rápido a nadar... Me forçou a subir naquela égua, mesmo depois de ela ter me derrubado. Foi quando naquele dia, ao tomar banho só mais tarde, vi minhas pernas estavam lotadas e carrapatos. Foram arrancados por mim e minha mãe um por um. Cada um deles me levando pelo menos uma gota de sangue. Então meu medo se tornou outro. Bichos escrotos que sugam. Barata eu adoro, não tenho medo, nem nojo. Tem barata na peça “Disney Killer”.

  Já ouvi de um guru certa vez, que o que desalinha os chacras e cria doenças, são duas coisas: o cultivo do medo e da dúvida. Agora preciso voltar a andar de bicicleta . Um caminhão em São Paulo atropelou minha bike. Tive que rapidamente pular dela para que a roda do caminhão passasse por cima.  Não quero deixar que me assalte o medo de bicicleta em plenos quase trinta anos de idade. Aos seis anos de idade eu somente utilizei as rodinhas da minha primeira bicicleta vermelha por um dia, quando a ganhei. No dia seguinte tirei as rodinhas para virar bicicleta de adulto. Queria pedalar que nem gente grande. Caí um monte. Meus pais perguntaram se eu queria que as botasse de volta. Jamais. Seria retroceder. Caí até aprender.
  O espaço da cidade dá total prioridade aos objetos de locomoção motorizados. Os caminhões, os carros.  Pelo tanto que poluem, por sua agressividade, e por serem armas letais que matam todo dia, deveriam ter menos preferência. Sonho meu...
  Tenho certeza de se pudéssemos ir ao trabalho de bike com segurança, chegaríamos ainda limpos, saudáveis e felizes ao trabalho. Sobrevivi. Agora falta vencer a terrível possibilidade de ter adquirido um medo. Medo de uma coisa que é pra ser locomoção, esporte e  lazer. Desse jeito, o próximo filme do Mojica será sobre o que? Um menininho andando de patinete num dia ensolarado? E vai amedontrar platéias cheias de acento.