quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A missão secreta extraordinária


Fui correr a noite na chuva, no parque do Ibirapuera. Parecia Londres na neblina, garoa e um frio de somente 9 graus. Não tinha ninguém no parque. E normalmente quando a temperatura não cai tanto, é lotado nesse horário. A iluminação do parque , de repente começa a fraquejar e então apaga. Bem no momento que estou ao lado do lago aonde tem uma pontezinha que o atravessa. Eu paro de correr, exatamente quando acontece o black-out.  Aprecio então a vista de uma água escura que espelha o céu, cercada de vultos de árvores que não mexem. Não há vento. Só o sereno que cai frio. Como sou uma moça prevenida, fui correr de chapéu. Tá bom vai, eu estava de boné mesmo. O chuviscar não me incomoda. Continuo naquele escuro agradável e de repente vejo que no céu, onde há uma mancha lilás escura, fortíssima. Linda e impressionante! Será porque teremos a Paraga Gay domingo? Não era isso.  Desço o olhar para o lago e avisto um cisne congelado como uma estátua. Haveria congelado o tempo?

Eu ainda mexia. Ou será que achava que mexia, seria pura ilusão minha? Pois o cisne não mexia nada, estava totalmente paralisado . E o parque do Ibirapuera estava escuro, vazio e com uma mancha gigantesca lilás escura no céu! E o mais estranho de tudo, o ar estava limpo! Limpíssimo. Tanto que dava até vontade de voltar a fumar pra sujar o pulmão um pouquinho.
Eu podia sentir o cheiro de vida, natureza e acreditem solidão, não havia ninguém ali! Uma solidão boa, rara, e no Ibira!  Tudo muito estranho e incomum. Todo aquele clima só podia significar uma coisa. Intervenção extra-terrestres.
Seres que habitam um planeta muito distante estavam presentes. Congelaram o tempo para corrigir alguma coisa que eu já iria desvendar. Já haviam avisado as autoridades terráqueas que viriam numa missão de paz atá a nossa cidade durante esses dias. Tanto que a moça do tempo já avisou na TV, que só irá abrir o tempo no domingo, depois do feriado de corpus cristi. Por tanto durante esses dias em que a cidade ficará encoberta de nuvens, esse et’s poderiam agir sem serem descobertos, sem causar pânico. Bem no feriado em que a maioria  de nosso país católico reza muito, mira o céu de olhos fechados. Por isso a necessidade de tantas nuvens baixas.
Através da tecnologia que possuem, sopraram nuvens carregadas e densas para bem em cima da cidade propositalmente. Para que não pudéssemos enxergar o firmamento de onde realizam sua missão: recolher os gases tóxicos da atmosfera paulistana. Para um experimento que salvaria vidas no planeta deles. É que eles são ets, e lá no planeta deles é tudo diferente. Esses gases que agente odeia aqui, é um raridade pra eles. E só mesmo aqui neste trecho do mundo eles encontrariam a quantidade e qualidade da poluição necessária para levarem, e fazerem a tal mutação química. O governo sabe de tudo. Mas não pode falar pois chocaria a população. Então mandam a moça do tempo dizer que é uma frente fria.
Só que em um desses tanques, provavelmente acoplados as naves , por onde eles levariam todo esse material para transmutação, houve um enorme vazamento. E lá estava a prova dele. Aquela lindíssima mancha lilás escura e brilhante no céu de Sampa, mais precisamente, do deserto Ibirapuera. E durante o tempo congelado eles tentavam consertar o vazamento antes que São Paulo inteira a visse.
De repente de novo a iluminação do parque volta. Checo se posso mexer mesmo, mas como saber se antes em vez de parada eu estava mesmo paralisada pelos ets?  Caminho um pouco. Avisto um homem correndo. Com medo dele, saio logo dali pois continua vazio o parque, pode ser perigoso nem pelos ets, mas pelos terráqueos mesmo. Olho de novo o cisne e ele continuava mesmo estático. A mancha lilás também permanecia lá. Vou correndo para o portão, decidida a  ir embora pra casa.
Na saída do parque, afoita por tudo que me houvera ocorrido, vejo uma que a luz lilás nada mais era que um fenômeno físico. Era a luz da nossa ilustre Assembléia Legislativa que refletia nas nuvens brancas, que baixas, causavam o efeito cinematográfico. Ao cruzar o portão de saída, no lago principal que é mais iluminado, enxergo um cisne de ferro e madeira, nitidamente. Idêntico ao outro que achei ser vítima dos ets . A falta de luz repentina foi só um curto circuito. O fato de o tempo só melhorar no domingo, é porque será  a  parada gay, e não pode chover nesse dia. A natureza é sábia e não quis enervar uma traveca ao borrar sua maquiagem com  garoa. E o homem que corria era um civil, esportista, normal, nada demais. Tão sozinho e inofensivo como eu. Tsc

Poesia da enxaqueca


  Já ouvi que ateus não acreditam em Deus enquanto estão saudáveis. É só estarem doentes para se lembrarem inclusive da palavra Deus, que quase nunca pronunciam, é com  “D” maiúsculo. Eu quando tenho enxaqueca, me revolto com deus. Não posso acreditar que Ele é tão cruel a ponto de me deixar sem enxergar direito! Minha visão quadro do lado esquerdo some, fica toda xadrez, meus olhos doem, minha cabeça... Ai meu Deus! Nesta época do ano piora e por quê? Deus  é que sabe. O neurologista mesmo sabe nada. E eu que só escrevo assim. Como penso. E como estava assim morrendo de dor, fui ler poesia de um jeito poético. E comecei a escrever diferente. No escuro, num canto. Sem revolta , com doçura.
Sentada na cadeira
Debruçada na mesa
 as luzes da casa apagadas
Só o abat-jour aceso restava.
Com Deus não queria conversa
Só deixei a mente dolorida, aberta.
Recolhida pela dor, sem saber o que fazer
Encontro um livro de amor e na luz fraca comecei a ler.
Como podem escrever assim?
Era letra com melodia lida.
Mesmo com ouvido moído.
Era estranho como o que eu lia, eu ouvia!
Naquele canto esquecido
Me invadia a poesia.
Enquanto a dor me contorcia
Sobressaia a alegria
Que cura pela cabeça
A marvada da enxaqueca.
  Escrevi uma poesia. Bem mambembe e com pouca técnica.  Os modernistas a aprovariam.  Senti vontade de ser poeta! Poetiza. Coisa que nunca me passou pela cabeça quando estava sem dor. Deus escreve certo por linhas tortas. Se não fosse a dorzinha, não teria tido a linda madrugada que tive, sendo curada pela poesia.

Fake and fuck



  Todo dia  tem alguém querendo ser meu amigo no facebook. São centenas. Na vida real poucos tem paciência comigo! Antes pensei em adicionar todos , para depois chamá-los para lotar meus eventos. Mas depois de tanto compartilhar com a dor e a delícia da vivência alheia, de tantos ilustres desconhecidos, achei melhor parar de adicionar tanta gente.
 A internet,  informação rápida, pulverizada, como manejar? Para os pesquisadores do ano de 2850 dou minha contribuição de como isto está se dando, ao contar alguns casinhos do maior sucesso do nosso tempo virtual: o facebook.
  Queridos  pesquisadores do futuro: trata-se do mais famoso site de relacionamento do mundo. Mundo que há poucas décadas vem se tornando globalizado, cada dia mais. Há muito pouco tempo, eu posso do Brasil, falar com um indiano na Prússia, e vê-lo ao vivo se mexendo em minha tela.  Este enorme acesso ao mundo que neste início de século temos tido, ainda é passível de dúvidas quanto a como se comportar diante de. Como utilizar tais fascinantes ferramentas. Então estamos usando e aprendendo pra que servem e anti-servem, na prática.
   No começo do século passado, o encurtamento de distâncias e aproximação de culturas deixou todo mundo igualmente confuso em como se comportar diante de tantas novidades. Até inventaram o livro de pequenas éticas, o famoso livro de etiquetas, para que a nova aceleração de informação e convivência com o novo mundo, fosse regrada, a ponto de acalmar a muitos que não sabiam como agir. Foi por exemplo a explosão dos perfumes, por causa das multidões que começaram a usar locomotivas e bondes . Uma das regras de etiqueta era manter-se cheiroso para não incomodar o outro, que agora era bem próximo, sentava ao lado. Apesar de até hoje ter gente inoportuna que põe música alta no ônibus, a maioria das implicações criadas com esses encurtamentos de distância, nós da vida moderna e urbana, já superamos sua grande maioria. O encurtamento agora é outro. Mais psicológico.
   Em vez de perfumes a explosão é de perfis no facebook. E aí começa a maluquice humana, parecida com a que começou com os  tais comportamentos de “etiqueta” antes, mas desta vez,  de outro jeito.
   Para ser agradável você deve ser no mínimo lindo e genial em tudo que faz! Deve começar botando uma foto de si mesmo incrível e bem sucedida, ou de uma paisagem igualmente incrível e bem sucedida. Sempre de bem com a vida,  ou revoltado com injustiças, neste caso fazendo uma linha heróica. Tem de se mostrar “o cara” ao preencher o perfil do face e em suas publicações.
  Se  sofre, é com força, garra e  beleza. Se está se dando bem, continua humilde e brilhantemente justo! E assim  fica-se tentando provar originalidade o tempo todo possível, no “status” do seu face.
  Deve-se realmente atentar  para parecer o máximo, tudo de bom ponto com.  Afinal a entrevistadora do departamento de recursos humanos, de muitas empresas, pode checar no facebook como você  apresenta a sua vida pessoal e profissional para o mundo. Há um site de relacionamento com a intenção de expor o  profissional e suas conexões, mas esse ninguém entra. Nenhum chega nem perto do sucesso do facebook.
 A polícia investigadora mesmo já pegou muitos bandidos descuidados, através das pistas que os babacas/bandidos amadores deixam em seus perfis! 
  É muito útil para se expor, logo, quem precisa de exposição para viver, não pode viver sem hoje em dia.  Quem precisa de alguém para sair hoje a noite, também vai encontrar checando o estado civil, as preferências, fraquezas, amizades, tudo, qualquer coisa. Pra comer alguém é uma mão na roda.  Você já personaliza a cantada, diminuindo a probabilidade de erros nas tentativas.
  Aliás, o “face” como é carinhosamente chamado, foi inventado por um moleque americano, virgem, narigudo e cheio de espinhas no rosto, pra isso mesmo... Um nerd que não comia ninguém, estava no primeiro ano de faculdade, puto por ter levado um fora, inventou o facebook. Para catalogar pessoas e não ficar mais só. De quebra virar milionário e poder comer mais gente ainda, mas isso foi consequência.
Basica  e fundamentalmente, é pra isso serve o face! Freud tem mesmo razão. Não é que  tudo tem sempre sexo na história?
  Um dia eu descobri como cancelar as atualizações de gente chata que publica baboseiras no face, e só por isso continuei entrando no site. Diariamente. Mais de uma vez por dia. Me fez  viciar mais. E eu estava quase desistindo.
    Um amigo uma vez fez uma campanha: “pare de se lamentar no face”  porque tem gente que é demasiadamente sincera e coloca todos seus sentimentos, se mostrando: rancoroso, magoadinho, frágil...  claro, sempre de forma estratégica. Gente que diz preferir animais do que gente por exêmplo. Gente que quer reconhecimento por ser negro, gay, corinthiano... Mas o mais comum de novo, e eu devo confessar, sigo mais ou menos esta linha, é parecer o máximo. Ser linda, boa profissional, bem comida, amar a vida, as cores, e ter raiva obviamente de coisas “más” como o mensalão (falcatrua política do nosso tempo). No fundo, no fundo: tudo bobagem, pra valorizar nossa... boa imagem. Quesito importantíssimo nos dias de hoje. E não mais virtude só dos belos externamente. Há de ser interessantíssimo também.
  Quando me sinto um lixo não ponho no face: “sou uma merda de pessoa, totalmente incapaz e desnecessária ao mundo. Hoje se tivesse coragem, pois também sou covarde, me mataria”.  Não pegaria bem. Iriam me julgar: suicida, fraca, baixa auto estima, baixo astral, isso não seria boa imagem.  Mas daria gancho a boa imagem de outros! Muita gente ia comentar! Com frases lindas de recomposição, amizade eterna, do tipo:  “força amiga você vai sair dessa! Qualquer coisa liga! Estou aqui para o que der e vier”- e a pessoa nem tem seu telefone.. .  Muito previsível. Muito marketeiro.
    Voltando a como se comportar, são vários os dramas  facebookianos. Alguns amigos virtuais se acham os melhores amigos, com direitos de verdade, e se sentem profundamente desrespeitados se você sai bruscamente no meio de uma conversa virtual. Acham que você faltou com a etiqueta. Gente, e se caiu a conexão? E se o bolo no forno quase queima? E se a campainha tocou? Abriu o sinal de transito? E a pessoa quer uma explicação pela demora ou ausência de resposta.
   É tão grave nossa adicção caros amigos de 2850, que mesmo em mesas de bares onde amigos se reúnem para confraternizar, se vê cinco, seis pessoas reunidas todas sem notarem as próprias presenças. Por estarem presas as atualizações de seus  celulares. Obcecadas em eternizar seus momentos e provar que são felizes. Ávidas por “curtirs”e “compartilhares”.


 Um dia voce tem um super pensamento filosófico,  de novo,ao mesmo tempo altruísta, ao mesmo tempo sexy, inteligente e político pra frentista!  Você entra na internet, entra no face e publica.  Daquele instante em seguida sua vida não é mais a mesma. Você vai clicar compulsoriamente na tecla “refresh” para  ver se alguém interessante leu seu brilhantismo vespertino. Se curtiu ou não o bendito post.  De repente só as pessoas mais chatas  da sua lista de amigos curtem e você se sente, um lixo. As vezes ninguém vê. Um sofrimento.
   Uma colega sua fala abertamente sobre sexo tântrico anal, você acha  super corajoso da parte dela! Só vê risadas (kkkk) e poucas curtidas. Como a atualização apitou no seu I-phone, você vai e discursa sobre isso. Diz que os gays não conseguem virar héteros porque praticam sexo anal, e é comprovada que a região é erógena, e causa sensação de prazer e doação transcendentais. E mais, que deve ser feito com carinho pois dói, e é muito íntimo e etc. Você tinha lido isso numa revista. Escreve um monte de baboseiras para se sentir ou descolada,  ou parceira da menina, ou porque quer ver o que vão replicar, e mais que tudo isso: porque é um vício. Você não tinha o que fazer quando recebeu esta atualização. Por fim vvocê escreve: “Faça! Dói mas vale a pena!”. Poucas horas depois de o mundo inteiro ver sua tese barata, a mesma amiga posta de novo: “Gente! Alguém entrou no meu face e publicou maluquices sobre sexo anal! Imagine eeeeeu  falar sobre essas coisas aqui no face! Sou uma mulher casada! Que baixaria!”  e com risos (kkkk). Agora meio mundo te acha uma pervertida louca.
  Tem sempre alguém que sempre curte nossos vômitos. E quando essa pessoa vomita também, você vai lá e curte solidariamente. Mesmo sem achar o menor sentido no que a pessoa escreveu.   Um dia numa festa,  a pessoa aparece  vestida com um mini shorts pink e salto alto, numa festa Black-Tie, é homem, barbado, tem cheiro de cachaça, a camiseta está escrito “Romney and Obama fuck each other”. Ele(a) te cumprimenta fervorosamente. Você fica sem saber quem é, qual é o nome, e que diabos significa aqueles dizeres na camiseta dele. Ele te mostra a tatugem com o nome fake que ele usa na “net” . Escrito nas costas. Detalhe:  neste momento você falava de teatro na Idade média com um possível  patrocinador da sua peça. Que delicadamente sai de fininho e desaparece. Face pode ser trágico...é para sempre na vida da pessoa. Quase uma prisão ou uma doença que aflorada ou não, está lá, com seu nome, esperando para manifestar.
  Um dia você conta a um amigo confidencialmente sua opinião sobre assunto muito polêmico. Tão polêmico que você mesma não tem certeza de qual é a sua opinião. Ele vai lá e te marca numa foto horrível que super afirma o que você não disse, mas divagou sobre. E agora todos sabem da opinião que nem você mesmo sabe direito se tem.
   Aí você diz: Chega! Eu posso viver  fora desta escravidão mental! E cancela sua conta. De sete em sete dias mais ou menos, o face vai te mandar um e-mail com a novas fotos postadas pelos seus principais amigos, felizes como sempre, geniais, nobres sentenças e quotes de efeito, mais a seguinte frase: “eles sentem falta de voce. Para voltar ao facebook e reativar sua conta clique aqui”, e um botão azul lindo. Quando você clica, automaticamente está lá de volta. Exatamente como deixou. Você troca a foto por uma de fênix, em que está ainda mais gostosa, pele de pêssego, sorriso de pérolas. Põe uma frase “Einstein” sobre retornos/ renascimento. As pessoas curtem. E como um louco ora transtornado em abstinência, você clica naquela porra de estrelinha do lado que torna sua publicação mais vista. E respira aliviado e novamente incluído na era digital.

Feliz Natal Punk



 “ Papai Noel velho batuta rei dos miseráveis! Aquele porco capitalista! Presenteia os ricos, cospe nos pobres!”
   Meu sobrinho de quase dois anos  está na melhor fase, ou no começo da melhor fase para ter loucura por papai Noel. Também pudera. É uma figura perfeitamente pensada para crianças. Gordo, barba branca, risonho como os bebês com aquele “Hohoho” amigável, e vermelho. Uma das três primeiras cores que os bebês conseguem enxergar, e a mais forte delas. É cercado de outras coisas coloridas como enfeites, presentes, flocos de neve, estrelinhas e bichinhos fofos.  O fato é que o Natal sempre me estressa. Tirando o prazer de ver bebês felizes por causa do bom velhinho, me incomoda  conforme vai chegando  a festa cristã. E não é por que muitas noites de Natal meu pai foi comprar cigarros e voltou no ano novo. Embora pudesse ser este o motivo. Ele devia se sentir mal por não poder encher a casa de presentes, não querer por roupa vermelha de frio, nem cantar jingle Bells a meia noite!
 Festas juninas sempre fizeram muito mais sentido, é alegre e divertido, tem mais interação. E eu sou a favor da cura pelo riso, pela graça, a reflexão pode vir depois do sarro e ser genuína. Não curto crescimento forçado pela dor.  Natal é uma depressão!  E quem não tem família? Ou mora longe dela? Extremamente anti-democrático!
  Nem vou falar das pessoas que gastam seu décimo terceiro salário comprando presentes de amigo, inimigo secreto, mais o presente do chefe, da esposa, das crianças. E por pura obrigação, nada a ver com presentear alguém com algum objeto, velho, novo, caro ou barato, ninguém pensa com carinho naquilo. Pensa se pode pagar ou não, e compra. E os que querem renovar a casa? Se endividam, pagam juros que calculam o dobro do valor das coisas. Me irrita muito, fazerem isso... Outra coisa, papai Noel só distribui presentes por que é um velho rico dono de uma fábrica de brinquedos que não vendeu muito o ano todo. Não tem família por que não aceita seu filho gay ter adotado um bebê. É cercado de mamães noelas novinhas, e duendes fumadores de ópio. Sente a “marvada culpa cristã” e por isso, marketeiramente sai “distribuindo” presentes. E seus súditos agem igual. Mas gastam tudo o que tem para fazer isso e se livrarem da culpa cristã.

 Aquela comilança descontrolada, as cidades que disputam a casa mais iluminada, nada a ver com bom gosto, mas com poder aquisitivo, gastando um monte de energia. Me irrita explodir aquele monte de fogos e aquele monte de bêbados batendo seus carros, numa data que deveria ser reflexiva e de ajuda ao próximo!  Ninguém lembra de Jesus molequinho, mal nasceu e já estava ameaçado de morte pelo império romano.
 E os que resolvem fazer caridade porque é natal? Caridade é o ano todo! Cada um como pode. Madame leva roupas usada ( que ela não quer mais) para doar em Diadema, e se sente madre Teresa de Calcutá por isso.  Sendo que ela mora no Morumbi ao lado de uma favela que ela nunca ajudou. Inclusive  a empregada dela, que está na casa todo dia, por que nunca se juntaram para fazer caridade?
Palavras bonitas e transformadoras  empesteiam o facebook e a caixa de entrada do email. A maioria delas tão... falsas. Penso que devo escrever uma crônica legal pra postar no Angu, algo reformador e natalino.  Que preguiça. Todas essas atitudes deveríam ser feitas o tempo todo, ser incorporadas a pessoas. Se somente afloram nas pessoas agora, que seja de verdade e não máscara. Mas não é isso o que mais me irrita. 
  Insuportável de verdade, é ver os motivos natalinos todos ambientados na neve, no Natal que acontece no Brasil. Nada mais cruel que as vestes do papai Noel. Levei meu sobrinho para vê-lo no shopping e ele não estava lá para receber as crianças devido aos casos de pedofilia. Não se pode mais sentar no colo do bom velhinho. Foi proibido. As mamãe-noelas que trabalham no shopping são mau humoradissimas de tantos pais tarados ficarem dando em cima delas.
Um inferno em vez de um tempo de paz... Então os papai noéis que perderam emprego por causa dos pedófilos, migram para Teodoro Sampaio lotada naquele calor de dezembro. Eles soam litros mas não podem emagracer de jeito nenhum, se não perdem o emprego de novo. 
Quantos profissionais de cultura e de moda são formados todos os anos, e ninguém ainda pensou numa solução para mudar isso. Não é só o figurino agoniante de papai Noel, mas o que diabos significa aquele tanto de bonecos de neve? Que criança brasileira já fez uma porra de um boneco de neve na vida? Só algumas milionárias e muito provavelmente por insistência dos pais. Por que não inventam algum outro símbolo tropical para Natais tropicais, gente?   Adaptem isso façam alguma coisa assim não pode continuar, é ridículo!
Para agradar as crianças os Estados Unidos adaptaram O “dia de los muertos”para “halloween” com aquelas abóboras e o tal dos “doces ou travessuras”. Nós não podemos deixar o Natal continuar a ser isso! Deve haver um jeito de ele permanecer gordo, vermelho barbudo, com uma mala mágica aonde ele troca de roupa ao chegar  Brasil, poxa. As pessoas se acumulando na avenida Paulista naquele calor infernal, pra tirar fotos daqueles enfeites natalinos que são importados. E remetem ao frio do pólo norte. Dá agonia só de olhar, e querem fotografar. Os papai noéis tocam jazz.  Por que não botam um papai Noel com pandeiro? Os duendes de bermudas, umas fadas voadoras mais arejadas, sei lá.
A propósito... De qualquer modo, desejo um feliz Natal a todos! Não comam muito, faz mal. Se iluminem, sintam paz em meio a euforia do fogos de artifício. Construa ao seu redor a sua saúde física e mental e estará em harmonia. Usem roupas leves e claras, bebam bastante água e comecem os exercícios.  No ano novo, faça boa passagem, e tente coisas novas para  objetivos velhos ainda não alcançados, que você ainda quer que chegue. Se permita mudar de idéia, aumente suas capacidades, há um ano inteiro na frente para isso. E claro, que tudo se realize no ano que vai nascer.  Muito dinheiro no bolso saúde pra dar e vender. Que venha 2013, trazendo alegria de viver em todos como são onde estão, se transformando como podem a melhor maneira.  Até o ano que vem! Pronto. Acho que consegui.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Flanelinha



  Uma das explicações para o costume de se desejar “merda” a um ator de teatro, está ligado ao desejo de que o espetáculo lote de gente para assistir. Se o estacionamento do teatro enchesse de carruagens e cavalos, o que o deixava lotado de merda dos animais, é porque a peça foi um sucesso de público. Merda significa “que sua apresentação encha de gente!”.  Os atores, com dinheiro no bolso de uma apresentação cheia de espectadores, limpavam juntos toda a merda no dia seguinte.
 Flanelinha é o nome dado aos guardadores de carro. Não sei se já existiam na época da expressão “merda”. Talvez o flanelinha da época shakesperiana escovasse os cavalos?  Na minha cidade, eu vi  a profissão começar com moleques de rua que carregavam flanelas amarelas para limpar o vidro do carro  e humildemente pediam uma “ajudinha”. Hoje não são tão pequenos assim, nem tão de rua, e levam como profissão extra.  Nem se dão ao trabalho de carregar a flanelinha, não lustram carro nenhum, só prometem que seu carro estará ali, onde você o deixo quando você retornar. E as vezes ajudam as ceguinhas a fazer baliza ou a encontrar vaga.
 Dizem eles que guardam os carros e nós temos que acreditar que ele vai ficar ali cuidando do automóvel, e pagar adiantado. O valor que ele mesmo estipula. Caso contrário nos ameaçam com um olhar de injustiçado vingativo, palavras magoadas, mexendo com nossa culpa social. Desço do carro que me foi emprestado.
- Pode deixar Dona, vaio no teatro?
-Boa noite?
- É 10 reais adiantado.
- Não vou te dar 10 reais.
- Dona, no estacionamento do teatro é 20.
- Eu não sou dona e não tenho 20 reais pra botar no estacionamento, por isso estou deixando na rua.
- Então me paga 10 adiantado e seu carro vai estar aqui guardadinho, prometo pra senhora.
- Qual senhora? Moço eu tenho vinte e poucos anos, sou mais nova que você. Na volta , quem sabe.
- Moça to fazendo só dez mas tem que ser agora depois não dá.
- Como assim não dá? Voltou a inflação de 30 anos atrás?
- Eu vou estar aqui eu prometo pra senhora, te dou minha palavra.
- Moço, não custa 10 reais deixar o carro na sarjeta. Com o cartão zona azul, é 3 reais, e a esse horário é zero reais, se botar na rua, que é o que eu estou fazendo.
- Mas essa área aqui é muito perigosa, a senhora que sabe, vale investir.
- Perigoso é onde eu moro, aqui é bem rico, arborizado e tranqüilo.
- Tá tranqüilo, boa peça pra senhora. - ( e faz cara de vingança)
- Moço só vou a esta peça porque ganhei o ingresso, não tenho dinheiro nem para entrada. E esse carro não é meu! Peguei emprestado para conseguir chegar aqui a esta hora.
Eu estava quase implorando clemência! Saí andando mas logo voltei e não mais no tom anterior. Mas indignada de verdade.
- Moço, o senhor pretende riscar este carro.
- Não disse nada disso não.
- E por que me faz ter medo disso?
- A senhora é muito medrosa.
- O senhor percebe que me extorquiu, me ameaçou, me acuou?
- Não fiz nada disso não senhora.
- Como você se chama? E quantos anos tem pra me chamar de senhora toda hora?
-Não vou dizer meu nome não. A... senhora moça, ta brava aí, se ia pagar 20 reais no estacionamento do teatro, to aqui te fazendo esse favor...
- Errado 1: eu não ia pagar 20 reais no estacionamento.Errado 2: favor não se cobra.  A rua é pública!
- Iiiihhh de novo está história de rua pública, Imagine chega o ladrão aqui vê seu carro, e achado não é roubado, e a rua é pública...
 -Esse carro não é meu e nem é visado para roubarem.  Eu vou ao teatro e eu não vou colocar o carro no estacionamento embora ele seja emprestado e eu devesse protegê-lo melhor, mas sabe por que eu não vou fazer isso? – ele me olha calado.- Por que eu não tenho dinheiro!  Eu não tenho um puto pra comprar uma água e hoje está um puta de um calor!  Eu só vou assistir essa peça de teatro, sabe pra quê? Pra prestigiar os colegas, pra ver se eles se sensibilizam com minha presença, porque eu sou atriz e pra variar, mais uma vez, eu estou desempregada! O senhor sabe o que significa ser uma atriz não global neste país? Eu ganhei o ingresso, caso contrário não poderia assistir!
-Calma moça- diz ele um pouco mais prestativo.- Quer um cigarro?
- Ah! Agora eu voltei a ser moça. Quero.- começo a fumar o cigarro dele, que é o mesmo do meu, indignada não mais olhando pra ele que diz:
- Atriz é pior que nóis, né? Mó dureza. É artista, eu to ligado como é. Não vai perder a peça não, vai lá. Tem nada não, seu carro tá guardado aqui, não precisa trazer dinheiro nenhum você não tem. Você foi honesta, voltou pra conversar. Vai lá,  é nóis.
- E sabe o que mais?
- Não sei, mas pode ir moça, tá tudo certo aqui.
- Eu já vi este texto mil vezes! – ele me olha assustado.
- Hamlet né? Até eu já vi moça. Mas esse é com o galã da TV lá.
- Pois é, e eu o vi na TV muito mais que mil vezes! Mas eu tenho que ir por motivos políticos. Vou me atrasar.
-Boa peça.
 A peça foi muito boa. Quando eu volto, o senhor moço não estava mais lá como havia prometido. Mas o carro estava inteirinho. E com um bilhetinho no pára-brisa que dizia: “quiser ver umas peça lôca alternativa, liga nóis. Rogério.” E um número de telefone.

sábado, 24 de novembro de 2012

Dramaturgias Macabras - Sampa doc.



Comédia

No bairro jardins, a mocinha chiquérrima com sua bolsa Louis Vitton, estaciona seu carrão na porta de um restaurante em São Paulo. Antes de destravar o carro para o manobrista abrir, ela tira o cartão de débito de dentro da carteira e esconde a bolsa com celular e tudo de baixo do banco onde está o namorado sentado.
-Não vai levar a bolsa gatinha?
- De jeito nenhum. Se rolar um arrastão meu cartão de débito está na minha bolsa interna.
- Bolsa interna? Que conversa de canguru é essa?
- É uma bolsinha interna que só cabe um cartão, fica entre a blusinha e a lingerie. Última moda contra arrastão.- ela deixa o I-phone 4 e pega um celular antigo, também pequeno
- Não vai levar nem o celular?
- Mas no arrastão é o que eles mais querem: Celular! Pra comunicar a bandidagem da cadeia com a bandidagem da rua. Não tá sabendo? Quanto mais moderno mais eles gostam, esses antigos eles nem levam.- Ele dá um beijo nela e entra no restaurante todo feliz com a gata descolada e bem informada.

Jornal de papel

No dia seguinte, esse cara senta na varanda lê jornal, toma café e lendo o caderno de mercado, resolve investir na bolsa de valores, e na outra bolsinha e uma marca famosa de lingerie que lança essa bolsinha canguru, última moda das moças ricas de São Paulo. Ele vê a foto de Bündchen semi-nua, com cara de dor de dente, zóio de jibóia, e a tal bolsinha nas mãos. Em caso de amorzinho, cabe camisinhas também. Ele adora. Excitado, ele investe mais um pouquinho na internet pelo celular. E acende um baseado, pois já trabalhou hoje.

Telejornal

  Esse mesmo cara vê no noticiário  o governador dizendo a imprensa, que encontrou um novo nome para secretaria de segurança da cidade, já que o vigente pediu exoneração do cargo. O governador diz que este sim é macho, e está preparado para lidar com a situação. Era promotor e procurador de justiça.Um moço magro também tomando café e fumando baseado, vê a mesma TV na favela e diz segurando a bola:
- Promotor de justiça? Que P. de preparação é essa que ele tem? Pra lidar com isso aí tem que ter passagem na SWAT, ter sido líder do Hamas, ter vivido na palestina, ter ido para o Iraque... (indignado) Promotor de justiça! Vai fazer o quê com aquela escultura cega que segura uma balancinha? O melhor nome seria o... tsc, aquele o... - esquece o nome do seu palpite.
Muda canal tv para um jornal sensacionalista que conta: “ Terrorismo na zona oeste de São Paulo.  As 21 horas da noite de ontem, um bar que não havia sido avisado de toque de recolher, recebe a visita surpresa de assassinos motorizados. Dois homens numa moto atiram contra todos presentes no bar que tinha as portas abertas, mulheres e crianças que voltavam de um jogo de futebol. Os bandidos  fogem deixando um morto a queima roupa e dois feridos. As testemunhas, mais de 20 pessoas, vítimas deste ato terrorista (que segundo alguns moradores,  pode ter sido tanto do PCC como da própria polícia,) acabavam de voltar de um jogo de futebol entre dois times da mesma favela, que realizavam o jogo em pedido de paz. O menino morto tinha 19 anos. Jogava num dos dois times e tinha uma  esposa da mesma idade e uma filhinha.” Foto do casal. Imagens choro e tristeza no velório.  Sai sangue e lágrimas da TV.

Teatro

O corpo do menino demora horas para ser liberado ao IML devido a fila de mortos pobres desta noite. É que os mais pobres tem um planos de enterro mais lotado, rola uma fila. Com vergonha de dizer a família a verdade, “responsáveis” mentem dizendo que já estava na autópsia, enquanto o defunto se atrasava para o próprio velório lotado de amigos e parentes que o esperavam quando na verdade ele ainda estava coberto num canto do hospital. Saúde, educação, segurança... onde? Oi? Onu?

Internet

  Quem parece feliz é o senhor  Edgardo, dono da loja de caixões que acaba de comprar um carro novo com ar condicionado. Ele tem uma página no facebook chamada “Se vai, que vá com Deus”, e está investindo no negócio de cruzes, flores, esculturas de santos católicos, faixas, e plaquinhas com dizeres de saudades.  Ou dizeres de revolta. Estes são mais caros e devem ser sigilosos, afinal senhor Edgardo é católico, empreendedor, mas não é bobo.
 
Palhaço ( no sentido de o sujeito agir de modo "non sense")

O homem vai ao debate, para debater com especialistas no assunto e jura de pé junto  (para que só fiquem juntos e não amarrados) de que a situação está sob controle. Ele diz que o Estado de São Paulo é o mais seguro do país. O que me faz pensar em cancelar viagens pelo país. E mais, diz na verdade está tudo bem, que tudo isso é um sensacionalismo nas redes sociais. Sabe as redes sociais? Adoram lançar boatos que se espalham bobagens na cabeça da população com muita facilidade! Os deixando iludidos e apavorados a toa!Uma glamorização da informação!

Novela

 É de uma fé cênica que assusta! Diz estar falando a pura verdade, afinal ele não tem rabo preso com o PSDB, mas acha que na verdade pode ser tudo culpa do PT que está tomando o país e quer difamar o governo dos outros... No final só falta ele mostrar a língua para seu interlocutor.

Drama

O Brasil só não tem mais voz na ONU porque ainda, com seu auge na ditadura, é campeão em tortura. E onde acontece a tortura? Nos morros cariocas, favelas e principalmente nos presídios. No morro eu entendo, mas o presídio não seria um lugar de retenção e regeneração?  Deveria ser. Mas é o único lugar onde não cai o sinal de celular jamais. Se voce está com problemas de sinal no celular, experimente ligar de um presídio. Sinal ilimitado. 100% de mensagens enviadas com sucesso.

Tragédia

Ai de mim! É o fim. Quem diria que iria acabar assim. Há culpa da fumaça branca e do pó de pirilimpimpim.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O curativo provisório




  Band-aid nome provisório de um curativo pequeno, está até no Aurélio. É que curativo pequeno é palavra dupla e grande. Uma vez fui pegar uma travessa de doce na geladeira, ela se espatifou no chão espalhando tudo e cortando meu tornozelo em alguma veia que jorrava muito sangue. Como na casa que eu estava não tinha band- AID, nem esparadrapo, colocaram silver-tape e fizeram em mim o que batizaram de “ponto falso”.  Estava mesmo bem aberto, e sem o tal ponto falso ficaria sangrando e sujando a casa de viagem toda . O  procedimento evitou que ficasse em mim uma marca feia e aberta.  No final das contas não mais necessário foi ir ao médico fazer ponto verdadeiro. O ponto falso funcionou bem. A marca hoje existe, é pequena.  Quando fomos a cidade não quis estragá-lo pois estava funcionando,  então só troquei a silver tape por um esparadrapo branco, onde utilizei da mesma técnica para continuar forçando meu corpo e suas plaquetas a resolverem a situação da abertura da pele, com a tecnologia que eu dispunha.
 Como se machucam os índios que vivem ainda com pouca  roupa que os protejam? Imagino que para eles a natureza seja mais macia que uma casa cheia de eletrodomésticos perigosos, móveis e vidros pontiagudos, ainda mais os modernos dinamarqueses.   Será que se machucam menos? Tenho uma amiga que fez uma cirurgia no pé porque o torceu andando numa superfície reta, com um salto alto chiquérrimo que lhe custou alta quantia, lhe ferindo algo de muitíssimo mais valor: o próprio corpo, cujo o qual não pode existir nada mais de valioso.
 Um índio tem índice de intoxicação por carne estragada? Pode processar o curandeiro por charlatanismo ou o cacique por corrupção? A carne chega a estragar numa tribo indígena, ou só comem  carne de peixe? Afinal usam um outro sistema de armazenamento e cozimento que usam. Não?
 Intermináveis são as discussões sobre inclusão do povo descendente de negro e índio que está em efervescência no país. Aonde eles querem ser incluídos? Os negros querem igualdade e que paguem a dívida social.  Os escravocratas já morreram. Em vez de fazer uma super sessão espírita que convoque os que erraram antes, teremos que negociar com os vivos presentes de hoje mesmo.  Indios e negros tem motivos e questões distintas, que devem começar a ser testadas, uma a uma, provisoriamente até se acertarem, pois toda raça humana, seus grupos e etnias estão passando por revoluções de pensamento e comportamento. Ainda bem.
Teremos de todos nos organizar a fim de que o respeito e a liderança de cada cultura se pulverize e se auto-reja com igualdade de representantes num mundo globalizado. Imagine se os japoneses quisessem cotas em universidades públicas? Só tem japa na USP! Eles deveriam pedir cotas na NBA para terem o direito de representatividade no basquetebol. Árabes devem querer descontos nos tecidos afinal as moças deles cobrem até os olhos, enquanto que as índias andam nuas e tomam banho de rio ao léo sem véu.
 A política de cotas, a pena de morte estão sendo pensadas, mas me parecem tapar sol com peneira.  Fazer o quê se estamos em tempos de sol a pino, aquecimento global e a própria peneira já ameniza o sol escaldante?  É tão absurdo que sejam necessárias cotas em universidade, em poder público para negros e índios, assim como é tão absurdo que seja necessário ter que pensar em retroceder com a pena de morte, só porque os homicídios tem aumentado nas ruas. No entanto eu concordo que se discuta tudo isso por um só motivo: acredito nos caminhos do porvir! Toda essa baboseira tão importante e fundamental, será motivo de piada quando um dia atingirmos uma sociedade justa.  Onde se consiga uma ordem. A ordem será o respeito, o consenso. E sempre haverá reajustes. Eternos reajustes.
 Este dia chegará depois de muita luta, mas não a com sangue habitual das décadas anteriores, que mostrou-se ineficiente e gerador do sentimento de vingança, mas a luta que queima neurônios para chegar as melhores idéias. E coragem para testá-las com suavidade, sem traumas, com a concessão de todos envolvidos. Esse meu discurso é mesmo patético.  Meu sonho de miss: a paz mundial.

  Ontem queimou a lâmpada da cozinha, quando finalmente eu havia ajeitado a iluminação da sala. Assim como na minha casa sempre vai faltar uma coisinha aqui e ali, as políticas irão se ajustando de acordo com as necessidades, não é mesmo?
   Num país tão grande e miscigenado como o nosso, e onde principalmente existem além dos imigrantes brancos de todas as partes, há um fortíssimo traço de população negra e índia, é mais que evidente que haveria de já estarem de velhos, super incluídos nas políticas todas: econômicas, sociais e culturais.  Acho válido que por sua tamanha expressão no país tenham correspondentes nas lideranças para estarem com todos os outros representantes, juntos na mudança de pensamento neste país. Vamos conseguir, somos bons nisso. Vide o Bom Retiro cheio de árabes e judeus ortodoxos almoçando em restaurantes koreanos!
   Todavia o Brasil sempre copiou ou foi influenciado por tantas culturas, e agora precisa  unificar e fortalecer  a sua própria.  Significa unir todas aqui presentes, não mais segregar. Mesmo que pra isso sejam adotadas medidas provisórias, progressistas, mas humanas antes de tudo. Um humano que entende que tem mais de mil versões étnicas, cada vez mais miscigenadas, e que também sabe que é parte de um planeta que tem a obrigação de manter, usufruir e também fornecer, equilibradamente.

Atentemos a afobação arqui-inimiga da perfeição. O desespero por justiça virou ganância de um estadista como Getúlio Vargas criando governos provisórios onde havia uma urgência de organizar os trabalhadores/exploradores brasileiros. A ditadura militar tinha a urgência de eliminar a possibilidade comunista. E todas as urgências afobadas que terminam em más experiências que atrasam a evolução que todos almejam.
 Que tudo seja analisado e votado. Qual resposta será há a mais cabível para todos hoje?
Uma sociedade mais justa consequentemente diminuirá a violência que poderá evitar a necessidade de pena de morte. Cotas para uma raça que reclama de exclusão centenária, terras para uma outra que não quer precisar de cotas, mas ter o direito de viver como acha que deve em terras de seus ancestrais. A terra é de todos ancestrais. Organizemos o espaço. Ninguém vai ficar sem terra para que alguém tenha a mais. Todos tem ancestrais, todos querem cotas, todos querem terras. Eu preciso de terra somente para o meu jardim, o máximo que eu planto são manjericões para o molho de tomate. Como filha legítima da cidade concreta, minha necessidade é outra.
Deve importar menos o  passado, que só nos serve aprender com os erros  e mirar em acertos futuros. Pensemos no presente e no futuro sem temê-lo, mas resolvê-lo sem pressa. Uma medida pode prevalecer outra deve sumir, mas devemos tentar o novo sem medo.
Vivemos um tempo de pura transição. Para algo que ainda não sabemos ao certo o que é.  Aqui chamamos de caminhos do porvir. Que só virão de fato, assim mesmo: testando, sem trauma, ocupando lentamente. Nada de enfrentamento ou comparações.  Em vez de divergir e confrontar: concordar, adicionar, encaixar para todos, que somos um tipo: brasileiros. Humanos. Terráqueos.

De violão nas costas


Meu pai é músico. É por isso que eu tenho vinis do Jhonny Winter, Jimmi Hendrix, Rolling Stones. Por causa desta influência tenho outros vinis também além dos que afanei dele. Em 1983, quando eu nasci, meu pai achando que eu fosse me chamar Luis Filipe, me comprou um violão, um Di Giorgio de madeira belíssimo. Depois ele achou que minha irmã fosse se chamar Marlon, comprou outro violão, mas nasceu Helena. Quando a Mariana, terceira filha nasceu, ele não arriscou mais nomes de homens e parou de comprar violões. Se conformou em ter três filhas. Tentou me ensinar violão e o máximo que aconteceu foi eu saber cantar um pouco, ser mais ou menos afinadinha. Do instrumento sei alguns acordes que saem abafados quando os tento. Logo começa a machucar os dedos e já desisto. A inteligência musical é uma das mais rebuscadas que tem, dizem , e eu acredito nisso. Devo ter herdado um pouco esta inteligência, mas não a disciplina que um instrumento exige. Como o violão é muito bonito pensei em consertá-lo para botar na estante da sala, assim quando vier visita que toca, eu canto. E quando não tiver ninguém em casa, eu tento uns acordes. 
  Levei por recomendação do papai a um consertador profissional de violas, violões e guitarras na vila madalena. Meu pai não conseguia me dizer o  nome e número do lugar então tive que achar pelas características que ele me deu:
-É um japonês cabeludo, meio véio, numa casa azul na Teodoro Sampaio.
-E onde fica a casa na Teodoro Sampaio?
-É uma escada que sobe, antes da galeria.
-Escada que sobe. Qual galeria, pai?
-É... depois sobe mais outra escada, são duas escadas. Tem que ser com esse cara ele sim é bom. Ele vai dizer o que precisa fazer no violão.
- E como ele chama?
- Não sei. Mas tem que ser lá, só pode  ser lá.
  O pior é que eu encontrei o lugar facilmente!  O japonês cabeludo não trabalhava mai lá. Quem me atendeu foi um senhor argentino chamado Juan.  A parte de baixo da loja tinha exposto vários instrumentos de cordas muito bacanas. A parte de cima, da segunda escada, era uma marcenaria de instrumentos. Lugar sonoro, encantador. Cheio de músicos testando, tocando. Deixei minha viola nas mãos de Juan.
  Sábado a tarde depois de uns 5 dias, fui buscar a bichinha. Novinha em folha. Tinha umas esposas de músico me olhando na loja, todas tatuadas, fumavam cigarro na varanda no topo da primeira escada. Tem tipo um palco ali, talvez para as pessoas ensaiarem. Me disseram que as vezes até tem shows nesse espaço.
- Você toca faz tempo? – perguntou-me Juan com sotaque argentino.
- Sim.
- Quer testar?
- Não, não, imagine, só de olhar já dá pra ver que tá massa.
   Fumei um cigarro de filtro vermelho, fiz cara de artista e segui pela Vila Madalena no sábado de sol com o violão nas costas. Comecei descendo a Teodoro Sampaio e depois subindo a Praça Bendito Calixto, lotada de gente a passear pela feirinha de antiguidades, e pelos bares e cantos dali. Então me dei conta que estava de óculos escuros do Ray Charles, coturnos pretos, calça preta e uma camiseta branca com um desenho em preto muito louco. Eu estava sendo vista como uma rockeira “madalenandante”.
 Quando cheguei ao beco da vila madalena, espaço de paredes grafitadas e constante eventos culturais, percebi que haviam montado um half de skate.  Tocava ska, som perfeito para o esporte.
   Conta-se pelos antigos moradores da Vila Madalena, os velhinhos que ainda conseguem dormir na badalada região, que toda a extensão que compreende os bairros Vila Beatriz, Vila Ida e Vila Madalena, pertenciam a um português.  Quando ele vendeu os lotes para prefeitura , pôs os nomes das filhas nas divisões feitas. Mas a vila Madá, como a apelidamos, virou a preferida dos artistas. Ela ascendeu assim por causa de um bondinho que botaram nela no começo do século. Hoje um apartamento dos chiquérrimos arquitetos franceses da Tryptic, construído na região valem mais de milhões. É que os ricos seguem os artistas. Agora o bairro valorizou tanto que nenhum artista pode viver lá, mas ainda passeiam e se apresentam por ali.
 Muitos deles me cumprimentavam com olhar e gesto parceiro, achando que eu fosse uma guitarrista a caminho do trabalho.
- Toca rock? – me perguntou um na rua.
- Opa!-
- MPB também?  Reggae?- fiz com a cabeça que sim!
Ele disse nome de bandas que eu conhecia e eu disse que tocava todas aquelas! Então ele constatou:
- “Nóis do som têmo que tocar tudo mêmo! Essa é a lei! Não sendo sertanejo, já era! Hahaha!”
 Concordei de novo e continuei caminhando. Não estava mentindo, toco tudo isso no som de casa!  Adorei sentir o assédio de andar na Vila Madalena com figurino de guitarrista. Enquanto o sol se punha nas cores vibrantes da Vila que nascia pra noite bohêmia.

sábado, 20 de outubro de 2012

A plantinha carnívora parte II



 
  A melhor coisa era ir a praia, chegar logo ao Rio de Janeiro. Fomos os três. Em Ipanema tomamos mate com limão: eu, minha amiga gringa e meu namorado leitor de jornal. Muito sol e muito Brasil. Rodas de futebol se formaram uma ao lado da outra formando uma fila de rodinhas de futebol na beira mar. As cariocas dando ombradas, cabeçadas e matando a bola no peito. Eu disse a minha amiga que  também faço isso muito bem, que jogo desde pequena. Só não estava muito disposta naquela hora. Até parece...
  Empolgada e intrigada em ver mulheres e velhos jogando futebol, a canadense tirava fotos, filmava. Eu tomava sol e as vezes dava explicações esdrúxulas sobre nossa cultura. Chato era voltar ao hotel e lidar com a cara de safado do recepcionista.
 Quando chegamos os três para pedir um quarto, ele fez aquela cara e perguntou: “Um quarto, com uma cama de casal para três?”. Respondi: “Moço, queremos três camas! Ele é meu namorado e ela é minha amiga mesmo! Não é amante nossa não! Estamos viajando em três e só vamos ficar em um só quarto para economizar. Não é nada do que o senhor está pensando.”  Ele olhou pra cara do meu namorado, com a sobrancelha dizendo: “Sei...”. 
  O Rio de Janeiro está caro, não podíamos pagar dois quartos, era só isso. Mas ninguém daquele hotel parecia acreditar nisso. E nos olhávamos toda manhã na sala de desjejum como se fossemos Vicky, Cristina e Barcelona.
   Exaustos de sol, dormimos. Cada um em sua cama. Pensamos em sair a noite mas o cansaço foi maior. Dormimos mesmo. Lá pras duas da manhã, a canadense começa a delirar “Oh my God!, Oh no, no... no!”. Estava passando mal do estômago. No começo vomitou bastante, depois se contorcia de dor, e gemia alto na cama. “Oh! Oh, no... Wait a minute.... Yes... Yes!  Oh my God!” Acho que os “yes”era quando melhorava a dor, e os “nos”era pra quando piorava. Liguei para o melhor médico que eu conheço em São Paulo. Passei a situação, ele passou uma receita. Fui comprar o remédio. Chego na recepção com o saquinho da farmácia e recebo mais um olhar duvidoso do recepcionista. Ela tomou o remédio e conseguiu dormir. Havia de ser o mate com limão. Quando foi três da manhã começou o escândalo de novo. Ela sentia muita dor e gemia escandalosamente!  Já não mais vomitava, mas se contorcia de dor e gemia cada vez mais alto: “Please! Livia! Dont’leave me!” clamando por ajuda. Fui com ela ao hospital. No elevador trombamos a senhora que mudava de quarto e olhava feio. Mudava por causa do barulho? Ou da mente pervertida dela?
  Taxi amarelo.
- Senhor, minha amiga está passando mal – “Oh my God!”-  Calma amiga , já estamos indo.
- É gringa? Qual foi? Cachaça? – com sotaque carioca.
- Não senhor, é vegetariana e também não bebe álcool.
- Foi aquelas porra de bola que os gringo toma pra ficar doidão?- com muito sotaque carioca
- Senhor, pode nos levar ao hospital mais próximo, no caminho conversamos?
- E onde é o mais próximo?
- Vai me dizer que não é carioca? -  desci do taxi e avistei o recepcionista curioso na porta do hotel. - Aonde é o hospital mais próximo?- perguntei.
- O taxista não sabe?- também surpreso o recepcionista.
-Não.- ele explicou ao taxista aonde tinham dois. E depois perguntou-me:
- É exstasy?
- Não. Ela é vegetariana, não fuma nem usa drogas, foi o mate. Explico quando eu voltar. Até.
  No caminho comecei a rir e não pude explicar a minha amiga o por quê. É que no rádio do taxista, tocava uma rádio evangélica, e o locutor dizia: “Você, que está sozinha ouvindo este programa... seu marido foi comprar cigarros e nunca mais voltou. EnTão você o espera na janela todas as tardes...”  Pedi ao taxista que abaixasse ou desligasse o rádio, mas ele não o fez. Fiquei ouvindo o programa evangélico e a canadense gemer até chegar. Longe.
 No hospital o ar condicionado estava congelante. Abrir a porta do pronto socorro foi como abrir um freezer. Em seu habitat natural de gelo, a canadense pelo menos parou um pouco de gemer. Enquanto esperávamos e eu me resfriava, perguntei se podia pelo menos aumentar um pouquinho a temperatura. Não. Por causa dos germes cariocas. Eles morrem no frio, tem que ficar frio.
  A atendente me fazia perguntas que eu não sabia responder sobre minha amiga. Mas as respondi e fomos atendidas por um médico gatinho. Jovem, carioca, moreno. Foi logo perguntando se ela estava drogada, ou se era cachaça. Disse a ele que nós duas éramos vegetarianas, viajantes, livres, fazíamos yoga e perguntei o telefone dele. Mentira. Ele diagnosticou que ela era gringa e havia tomado mate na praia. Chamou de “mal estar do viajante”. Que iria passar, era só tomar água, mas estava desidratada e precisava de soro.
Pra tomar o soro foi um suplício. Dois litros! E logo voltamos para pedir alta ao médico gatinho. Estávamos maquiadas e mais coradas. Entramos na sala tinha um médico velho! Com sotaque capixaba. Devia ter uns mil anos. E diferente do outro, não diagnosticou o mal estar do viajante, mas um possível começo de úlcera que a acompanhava há tempos!  Receitou um monte de remédios pra tomar por um mês e mais outros que ela deveria tomar pelo resto da vida. Não poderia mais tomar café,  pediu uma biópsia do estômago e deu gratuitamente o tratamento com remédios, mais as guias para os exames.
  De volta ao hotel, eu estava feliz que no pronto socorro público minha amiga gringa havia sido bem atendida por dois médicos diferentes, num super ar condicionado e estava medicada,  saudável e corada. Ela não poderia falar mal da gente no Canadá, afinal deu tudo certo. Então no dia seguinte eu perguntei em inglês:
- O que acha agora da saúde pública do Brasil?- ela havia me perguntado antes- Você pode dizer melhor que eu.
Responde a canadense:
- Acho normal. Tem o mínimo. E faltou um cobertorzinho, estava muito frio lá dentro.

A Plantinha carnívora



 Ser vegetariano é chique. Pega bem. Diz a profecia Maia que no ano de 2012 mudaria o eixo  da Terra. Não sei muito bem o que isso significa. Mas parece que ao mudar a tal ordem mundial, tanto a moda, costumes, como as tendências mercadológicas, começariam a vir do oriente. O que já vem acontecendo desde os anos 60: a orientalização do ocidente. A China hoje não é só um gigante. É um tigre gigante! A China comanda a energia do mundo. Inclusive a nossa no Brasil.  Os chineses acabam de comprar as empresas de energia que eram dos espanhóis.   A energia passa de européia a oriental. Parece que foi em religiões orientais que a estória de vegetarianismo começou. Não é na India que a vaca é sagrada? Comem cachorrinhos por lá?
  Enfim, ser vegetariano por aqui, dá idéia de ser mais saudável, o que hoje é super  “cool”. O vegetariano deixa de ser, como dizem os budistas, um “fantasma faminto”, e torna-se uma pessoa mais leve. Que faz sexo tântrico, yoga. Que recicla, que é contra o sangue derramado em guerras.  Um sentimento “new hippie” para nós ocidentais.
  Bem... Uma grande amiga minha, gringa, diz que a partir de sei lá quando, virou vegetariana . Nunca tinha sido antes.  Desconfiei e respeitei. Ela estava convicta. De férias no Brasil, eu tive de eleger o lugar onde iríamos almoçar. Aonde? Liguei para um da lista do restaurant week da cidade, onde estávamos de viagem. Chamava Veg Villagio restaurante. Pelo nome imaginei que era veegan.
- Restaurante Veg Villagio, bom dia.
- Bom dia. Quero fazer uma reserva e preciso saber se vocês tem prato vegetariano.
- Temos sim.
- Perfeito. São três pessoas.
-Que horas?
- Daqui á 30, 40 minutos.
-Ok, feita sua reserva.
-Legal. Moça, pode me dizer como são os pratos vegetariano?
- Posso sim. Temos de todas as cores.
- Como assim?
- Que cor a senhora gosta?
-Que cor eu gosto?- vai que era um código veegan -  Olha...Não é pra mim. Eu como carne.
- Ah,nossas carnes são maravilhosas. Eu sugiro baby beef mal passado, com batata sautê.
-Minha amiga é vegetariana. Pergunto por ela. Aí tem carne?
-Não se preocupe,  temos frango e peixe, sua amiga gosta?
- Moça,minha amiga é vegetariana.
- Sim, sim, nós temos peixes vegetarianos.
- Peixes vegetarianos. E os pratos vegetarianos como são?
-Eles comem algas- disse ela me interrompendo.
-Quem come alga, o peixe? A minha amiga também.
- É mesmo? É que temos um aquário aqui no Vila Villagio cheio de peixes comedores de algas.
- E podemos comer o peixe do aquário?
-Sim, matamos ele na hora é só a senhora escolher.
- Moça, eu preciso saber como são os pratos ve-ge-ta-ri-a-nos, que significa que só vai  vegetais, nada de peixe, nem frango.
- Senhora, a Veg Villagio vende a comida e os pratos onde vai as comidas. Você come o prato, quer dizer, a comida que vem nele, e de quebra ganha o prato pra botar de enfeite na parede da sua casa.- ela falava de modo vacilante como que tentando se lembrar do texto mal decorado.
- Entendi. Os pratos são decorativos.
- Sim temos de todas as cores, vários temas, desenhos de peixe, frango e vegetais. Ah, e flores também. Ah! Oi , alô?
- Oi.- já cansada dela.
- Tem também aquele com uma moça com os seios de fora, corpo metade de peixe e com um abacaxi na cabeça. É o último.
-Certo- já quase desistindo- Mas como é a comida vegetariana que vai nesses pratos que são coloridos, decorativos e repleto de temas. A comida vegetariana. Como é?
- Não sei moça nunca experimentei. Mas é boa, eu acho.
- Ok, obrigada, deixa pra lá. Acho que minha amiga vegetariana não vai gostar de me ver escolhendo o peixe que vocês vão matar pra eu comer... Cancele a reserva.
  Enquanto isso minha amiga me pressionava para irmos embora! Dizia estar morrendo de fome e queria que eu encontrasse logo o raio do restaurante . Liguei para um outro da lista que se chamava “ A Vaca redentora”. Com esse nome pensei que podia ser de comida indiana. E lá deve ter a tal veegan, verde, ou seja lá o que for.
  Estava com muita fome a esta altura. Em vez de ligar fui direto. Descobri ser um rodízio. Sim, uma churrascaria tipicamente brasileira. Expliquei para minha amiga que todo rodízio brasileiro tem um buffet enorme de saladas. Mato não iria faltar. E que culturalmente seria legal ela conhecer um rodízio. Falei das plaquinhas que são como semáforos na mesa. “Sim” para mais carne e “não” para quando queremos dar um tempo. Isso só existe no Brasil! A fome, e um pouco de curiosidade, a fez concordar. Eu num lugar deste mais pareço uma planta carnívora.
 A planta carnívora fica parada esperando vir a mosquinha, que gruda nela e em seguida é ingerida pela planta. Eu na churrascaria, fico igualmente plantada, quieta  esperando o garçom trazer a carne, botar no meu prato e depois eu a vou ingerindo.
 Defendia durante o almoço o não fanatismo. Já fui vegetariana por um tempo, vampira por alguns meses, gente, eu mudo o tempo todo. Mas uma coisa nunca mudou em mim. Meu pavor por lesmas. Pavor mesmo. Medo profundo. E  no prato verde de minha amiga eu avistei uma. Caímos juntas para trás. Ela de nojo, eu de asco e pavor. O restaurante todo notou nosso horror. Neste dia o bicho morto e bem passado para “ao ponto” estava uma delícia, mas perdeu imediatamente o sabor, pois aterrorizante  foi  ver o bicho vivo e não comestível, ali, no prato e ao mesmo tempo no habitat natural dele o alface. Provando que o vegetarianismo e o tal do equilíbrio ser muito perigosos.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Crime desOrganizado



  Nunca me senti tão confusa para votar . E entender  o que diz o jornal. As notícias não batem. Incêndio em favela, ONU parabeniza São Paulo por melhorar habitação dos pobres. Foto de Maluf apoiando o PT, Russomano em terceiro lugar depois de estar o tempo todo em primeiro nas pesquisas. Além da última vez que eu fui assaltada.  Já me aconteceu muitas outras vezes. Mas arrastão em restaurante foi a primeira.
 Eu estava morrendo de fome. A comida pousou na mesa pelo garçom. Na hora que pego nos talheres, entrou um moleque. Depois outro e depois vários. Todos bem vestidos para assaltar. Estavam juntos, notei depois. Seria coincidência mais de um assaltante mesmo lugar? Imagine se um deles dissesse: “vai embora , cheguei primeiro!”. Uma quadrilha de festa junina. Fiquei com medo que levassem minha refeição. Não anunciaram o assalto como nos filmes, foram fazendo aos poucos. Roubando cada mesa, as vezes a mesma, e apavorando geral, com frases e palavrões típicos e sotaque paulistano da nossa periferia. Eram meninos.
  Não pareciam ter experiência no ramo em que estavam. Quase lhes dei meu cartão para que me ligasse a fim de eu fazer uma consultoria. Para que no próximo assalto se desenvolvessem melhor. Nem sequer tinham sacos para botar o material roubado dentro! O carro eles tinham e saíram cantando pneu. Óbvio que assim seriam encontrados! Um dos baby assaltantes não sabia se roubava ou não o whisky do bar. Talvez não soubesse se caberia ou não no carro, ficou indeciso, como os eleitores de São Paulo. Olhou a estante do bar, pegou um. Devolveu. Pegou de novo e acabou levando algumas garrafas de bebida.  Devia ser o alcólatra da turma.

 Desconfio que eram atores contratados por partidos políticos que disputavam a prefeitura da cidade. Era semana de eleição e eram amadores demais. Apoiados pelo atual governo, receberam um cachet para fazer aquilo. Uma estratégia de marketing.  Nós vítimas diríamos em nossos blogs e facebooks que a polícia funciona.  Pois nossos pertences foram encontrados um dia depois.
 Eu não ligo que a polícia funciona. Queria uma política que evitasse que esses meninos passassem  aquele papelão atrapalhando meu jantar e de quebra botando minha vida e a deles em risco. Eles deviam estar jogando capoeira, aprendendo inglês, estar de aprendiz de algum ofício, namorando. Estavam na puberdade!  Acabada a ação deles, sem meus pertences, eu comecei a comer. Em volta as damas se abanavam, suspiravam de medo e aguardavam a polícia ( e seus maridos, pois pra mim era tudo charme) salvá-las. Eu ainda ganhei o jantar de graça! Não precisei pagar! Ganhei uma crônica prontinha. Eu devia ter pedido mais comida, eu sabia, tive esse “feeling”. Levei o restante pra viagem.
O que será que queriam fazer com aqueles I-phones todos, se são bloqueados pela Apple? A delegada que fez meu B.O. disse que os assaltantes tem um vigoroso sistema que desbloqueia. Quando fui buscar meu celular na delegacia, eu tinha esperança de que já tivessem  conseguido desbloquear o meu. É que a minha operadora o havia bloqueado por falta de pagamento. Na verdade por falta de receberem meu recibo.
 Como atriz meu sonho sempre foi ser aquelas mulheres de bandidos. Que sabem atirar, que sabem enganar e também sabem ser muito chiques, tipo a Júlia Roberts em “Onze homens e um segredo”. Ladra famosa. Casal de golpistas que vai a cassinos e reuniões com banqueiros e acionistas. Não era o caso de nenhum deles. Mas claro, devo admitir que se deve ter coragem para fazer aquilo. Deve dar um frio na barriga danado. Fico pensando se fizeram aquilo por necessidade ou por emoção. É uma adrenalina que nem saltando de avião em queda livre se consegue. E se tivesse sido completado, mais ainda.  Falando em completar meu celular não completa chamadas. Eles esqueceram, ou não tiveram tempo de desbloquear.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Personagens de uma pequena Vila



  Fui ao cinema assistir Fausto de Goethe. Além de contemplar a bela fotografia , fiquei imaginando aquela época, a vida no século XIX, na Alemanha. A passagem de um século para outro. Os personagens Mefistofilis e Fausto existindo de verdade naquele contexto. Quando lemos imaginamos, o cinema mostra e você vê a história viva na tela. Passeavam pela vila, iam a padaria, a venda, ao bar, no bosque. Viviam como as pessoas de hoje, claro, nas condições daquela época, e dos personagens que eram. Um era um diabo e o outro um médico doido! Dividiam a mesma vila alemã com os outros alemães “normais”. Embora se notasse bem que eram caras diferentões, esquisitos, como tantos que vemos por São Paulo.
   Esta cidade em que vivo tem hoje quase 20 milhões de habitantes. Dentro desta mesma cidade tem incontáveis vilas, vilarejos, comunidades, favelas e até mesmo outras cidades dentro de uma Sampa só. Eu escrevo sobre a minha vila. A que eu vivo. Eu venho do Bonfa, mas circulo da zona oeste, a sul e centro. E dentro deste circuito, consigo as vezes me sentir vivendo em uma vila pequenina do século XIX. Encontro as mesmas pessoas nos teatros, bares, vernissages que freqüento. Nas avenidas, ruelas, parques, se tornam pequenas, onde todos se conhecem ou já se viram antes.

 Consegui identificar uns tipos esquisitões na minha vila. Possíveis Faustos e Mefistófilis. Eles existem de verdade. Vou descrevê-los como vejo e como se comportam aos meus olhos! Espero que eles não fiquem bravos comigo... pois os encontro sempre.

 Tem a louca histérica. Ela é catadora e mendiga, vive nas partes ricas da cidade, mais pelos jardins e a avenida Paulista. Ela lembra aquela velha dos gatos de Os Simpsons. As ruas das áreas comerciais estão cheias de gente ao meio do dia, é a hora do almoço, das doze ás duas ou três tarde. Todos indo aos restaurantes. Então ela começa a gritar. A urrar na verdade. Um urro ardido e contínuo.  Ela escolhe uma vítima, grita e gesticula olhando diretamente nos olhos desta pessoa, fazendo todos ao redor (que não a conhecem) acharem que esta pessoa fez algo muito sério a ela. Como não dar uma esmola, pisar no pé dela ou algo assim.  Nada disso, o coitado foi simplesmente o eleito. Ela nunca me elegeu, graças a Deus. Mas já a alguém muito próximo a mim. O susto que todos levam é muito grande. Mesmo depois de saber de sua existência, os urros são muito altos e indignados. E ela continua meio que tentando reclamar algo incompreensível e até hoje eu vejo gente tentando compreender o que exatamente ela está a urrar.  Sempre tem curiosos que param de longe tentando entender o que ela está fazendo. Além de novos e velhas vítimas assustadas.

  Ronaldo Brévis o poeta. Tem uma esquina na Oscar Freire que tem um prédio completamente abandonado. Tem um processo judicial nele, alguns mendigos tomaram o local o deixando deplorável, mal cheiroso e pixado. É uma esquina fantasma. Ali é a sede do poeta. Tem um ponto de ônibus na frente onde ele senta para escrever. Ele tem uma cartola de Tio Sam preta, ou uma de lantejoulas roxas e ainda um chapéu estilo capitão Gancho com uma pena verde. Barba branca, é negro, magro, não possue os dentes da frente e as vezes parece mendigo, pois não deve ter  muitos acessos a  banho. Está sempre bebendo alguma coisa, não sei se é álcool mesmo, mas ele fala como se estivesse sempre bêbado. É engraçado pois as vezes cheira mal e as vezes se entope de perfume! Ele põe cartazes nesta esquina, onde escreve poesias de canetinha colorida, caneta bic e grafite. São vários cartazes pequenos e grandes. O português do poeta é muito ruim, o que me impossibilita de dizer se as poesias são boas ou não. Já tentei ler algumas mas só os inteligentes podem entender, eu não consegui ainda. E mais, se você der atenção a ele, vai te pedir uma caneta, e um papel e vai te escrever uma poesia. E colocar os links dele no you-tube, no papel. Tenho a minha poesia em algum lugar aqui em casa. Lembro de tentar decifrar, ainda não o fiz. Escreva o poeta dos jardins no you-tube, ele é famoso!

  Legionaire. Tenho medo deste cara. Inclusive de ele ler isso e me processar! Mas conto aqui a verdade,  que  vi deles na rua pública. São personagens da Vila São Paulo que freqüento, vivo e moro desde sempre! E este cara é outra celebridade. Todos os bares e restaurantes do Itaim, Vila Olímpia, Pinheiros e Vila Madalena o conhecem. E o temem. Pois a princípio ele é só um excêntrico. Depois de beber garrafas de tequila, vodka e whisky, óbviamente se transforma  e dá trabalho. As primeiras são no copo, depois ele começa a circular com uma e depois com duas garrafas uma em cada mão. Ele começa a conversar, tem os olhos arregalados, parece um soldado alemão. Usa calças camufladas de exército, é careca e no início usa uma camisa, depois de muito éter circulando nas veias, ele exibe seu abdome e peito super sarado. Para todos diz a mesma conversa, exatamente igual. Ele diz que é francês de Lyon. Com alguns começa a falar em francês. Diz que é agente secreto, faz cara de “por favor não conte a ninguém”. Diz que serve as duas nações: Brasil e França. Aí ele mostra os documentos: passaporte, reservista, o documento de dupla cidadania. Depois bebe mais um pouco, sobe no balcão, se houver, se não encontra algum tabladinho e começa a dançar como um gogo boy. Por isso o medo dos donos de bares e restaurantes. Nenhum segurança consegue tirá-lo dali se ele quiser ficar. Ele vira a estrela do lugar. E dependendo da empolgação, termina de mostrar todos os seus documentos de cima de seu palanquinho.

 O Alls Star vermelho. Conhecido como Alls Star mesmo. Me esqueci do nome real do rapaz, jovem alto e bonito. Usava uma jardineira jeans e uma camiseta colorida em baixo. Ele chega e mostra que comprou um alls star. Há anos.  É a primeira coisa que diz. E o alls star realmente está sempre novo. Depois, independente de qual seja o assunto ele tem um conjunto de frases que servem para tudo! É impressionante. Suas respostas são perfeitas para quaisquer perguntas. Ele tem também um conjunto de expressões faciais igualmente universais. É como se ele tivesse decorado um texto coringa para tudo que conversávamos. Falava olhando para o céu. Eu tentava fazer perguntas difíceis, elaborava algo que ele tivesse que dar uma resposta diferente. Nunca consegui. Ele estudava num colégio do Bonfa, o mesmo que eu estudei. E as conversas eram na porta, na hora da saída ou na entrada. Ele sumiu. Dizem que morreu. Mas acredito que foi abduzido por um grupo de ETs.

Fofão. Antigamente o Fofão (não se sabe se ele sabe que o chamam assim)  simplesmente ficava sentado nos bancos das praças do centro da cidade. Ele tinha as bochechas vermelhas inchadas bem abaixo dos olhos, como aquele palhaço dos anos oitenta que aparecia na televisão, o Fofão. Olhos delineados de lápis preto e um quilo de blush. Não fazia mal a ninguém só ficava sentado mesmo, mas todos que o olhavam saíam correndo de medo da figura. Criança chora de medo só de olhar. Dizem mil coisas: que é gay, que foi casado, que é perigoso, que era rico e ficou pobre, que aquela bochecha foi cirurgia mal sucedida . Os anos se passaram e Fofão mostrou-se inofensivo porém, mau humorado. Arrumou um emprego de entregador de panfletos no semáforo. As bochechas, que seria aplicação de silicone, que parece que também tem no quadril, desceram no rosto, o tornando mais horrendo que antes. Ele também cortou os cabelos que eram compridos. Imagine o susto que leva o motorista no farol quando ele aparece na janela para panfletar. Se a pessoa não aceita o panfleto ele fica bravo e começa a perguntar por quê? E entra na frente do carro para assustar ainda mais com sua aparência! Eu sempre aceitei seus panfletos. E tento não mostrar que tomei susto com seu look novo.

 Por último , tem o dono da Ferrari vermelha. Ma que bella máquina! Ele tem também um corvette amarelo sensacional. É muito simples: ele fica na av. Paulista em dias de muito sol. Feriado ou domingo. Estaciona na calçada de modo que o carro fique exposto como se estivesse no salão do automóvel. Ele joga o peso dom corpo para um lado, está com jaqueta da marca de carro e fica rodando a chave no dedo indicador. Os amantes de carro pedem pra tirar foto, ele deixa e adora. Alguns tiram foto com ele. É uma celebridade desconhecida. Talvez os policiais façam vista grossa por ele estar estacionado na calçada, afinal é quase uma atração turística. Fica pertinho do Masp.

   Se eu não vir mais essas pessoas, darei falta delas. Tem vários outros, que em meio a 20 milhões se destacam, ou pela esquisitice ou pelo que for. Tem o vendedor de pão de mel, o amolador de facas.  Como é difícil desligar de São Paulo! Sempre tem tanto a se fazer, a se ver por aqui ... Cada vez mais cresce e ao mesmo tempo fica pequeno esse nosso mundão.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

É tudo igual?


  Homens são todos iguais. Só muda o endereço. O contexto. O tom da voz. A suposta futura sogra.  Mais alguns outros mil detalhes, que os torna bem diferente um do outro. As vezes parece tão único e depois se mostra tão previsível... A verdade é que eles tem prós e contras. Depende da sua disposição e das suas tendências para amá-los ou não. Se apaixonar e enjoar da parte chata, é só uma questão de tempo. E de afinidades também. A mulherada sempre vem contar alguma história de homem! Geralmente as que deram errado. O que está dando certo a gente não conta muito. Vive que é melhor. Abaixo eu tento não classificar ou rotular, longe de mim! Mas definir alguns tipos que já vi por aí.


O gringo


 Dependeria do país para mais detalhes, mas os gringos que não optaram em ser malucos, ainda tem dinheiro, ou fingem que tem, e querem casar. São românticos, vão te surpreender. Prometem aprender sua língua e ainda propõe de vocês aprenderem uma nova juntos, para fazerem amor em português, russo e chinês um dia. Fala das guerras que teve no país dele com orgulho, tentando te convencer de que hoje, aonde ele vive e nasceu é o melhor lugar possível para se ter e criar os filhos. Ele te dá segurança e presentes caros.  Tenta justificar os erros que comete dizendo que isso não está na cultura dele. Quando uma coisa acontece de muito legal, isso é super normal na cultura dele. Se veste bem, mas vai de camisa á praia. Está sempre cheiroso, chique, vale a pena se vestir para um homem deste. Ele vai notar suas vestes sempre. Vai dizer que hoje você está mais bem vestida que aquele outro dia, e que esta marca de perfume tal combina mais com você. Ele lembra até se a maquiagem combinava ou não com a roupa e com a ocasião. Ele é fã de Rihana. Quer uma brasileira pra ele, morena.  Canta junto as músicas americanas que tocam na rádio. Aumenta o volume quando elas passam.

Porém

Sabe aquela história linda de um escritor famoso do seu país? Ele vai dizer que leu pra passar no vestibular e acha um saco essas coisas. Vai chamar de “essas coisas” mesmo

Todavia

Você vai cansar de namorar em inglês. Vai querer comer feijão preto e falar de coisas que ele nunca vai entender. Ele vai insistir que o Brasil não é seguro! E você vai se irritar.



O esportista saudável


Ele fez educação física, gente. É super atencioso, adora crianças e elas o adoram também, o chamam por outro nome, tio alguma coisa. Ele dá aula de natação num clube, é personal trainer de madames, participa de corridas, triatlos, tem um grupo de amigos homens lindos como ele, onde saem juntos para fazer mais esporte, desta vez, por lazer, ufa!  É do tipo que te olha de longe no parque Ibirapuera, muda a rota dele e “sem querer” tromba com você na pista de corrida. Logo depois, te encontra na barraquinha de água de coco e começa a conversar. É muito simpático risonho, adepto da seratonina gratuita. Vocês irão muito para praia de moto, cabelos ao vento, curtir a natureza. Ele vai te ensinar a correr e a alongar direito. Sabe tudo sobre uma alimentação correta. Tem um labrador. Na cozinha da casa dele tem aquelas barrinhas diet e aqueles potes de suplemento alimentar que é químico pra caramba, mas ele vai dizer que é natural. Que é proteína pura, que faz bem sim. Ele tem bike e um carro com rec para levar a bike. Um dia você descobre que na adolescência ele foi gordo e cheio de espinhas no rosto. Ele vê que você achou a foto e fica muito bravo. Desconcertado, como se você fosse mudar com ele depois desta revelação! Aos domingos ele curte um pagodão com feijoada light sem culpa. Ufa! Ele toma uma cervejinha! Uma.

Porém

Talvez você largue o cigarro um pouco e vai diminuir o sal na comida automaticamente.

Todavia

Você não vai parar de comer chocolate e vai se irritar quando ele disser pela milésima vez que sorvete nada mais é que gordura hidrogenada com açúcar.




Jesus Freud


Geralmente mais velho, com a vida estabilizada. As vezes nem é tão mais velho que você, mas se sente muito vivido, experiente. Ele trabalha num banco famoso, na bolsa de valores, tem grana hoje porque se esforçou bastante, trabalhou muito, fez faculdade e pós na FGV. Ele te vê com uma vida tão incerta, quer te dar alguns conselhos para que você ganhe mais dinheiro e seja rica e feliz como ele. Então ele faz perguntas sobre a sua infância, sua profissão, sugere jogos de perguntas e respostas. Compra seu livro favorito, e depois pergunta sobre.  Os caras Jesus Freud querem se sentir descolados ao seu lado, porque na verdade eles não são  lá tão resolvidos quanto pensam que são. Ou quanto dizem que são. A casa dele é super normal, decorada como a do pai e ajeitada por uma faxineira que vai lá três vezes por semana. Com cheiro de bom ar e lustra móveis. Ele é organizado. Fez terapia a vida toda, leu alguns livros de auto- ajuda e por tanto pensa que pode ajudar você. Sem você pedir ou precisar. Te leva, te busca, é super atencioso. Seu lado Jesus quer te salvar e o lado Freud quer te curar. Ele quer ser seu pai! Tarde demais, você já teve o seu.

 Porém
É bom pra você ver como cada louco tem sua mania e de perto ninguém, mas ninguém mesmo é normal. E a sua vida é bela.

Todavia
Você pode ficar tão louca quanto ele pensa que você é, e alguém querendo te “melhorar” o tempo todo é um saco.



O porra loca tudo de bom


Cuidado. Existe o de boa e má qualidade. Não vá se perder por aí, como diz a música! Vocês vão sair noite a fora, dar muita risada e voltar bêbados pra casa. Se um dos dois vomitar muito, não há problema, vocês continuarão apaixonados e tudo certo. As conversas são sempre pra cima. É incrível como vocês concordam em tudo e riem no final de cada frase. É uma delícia fazer planos com ele, afinal de contas, nunca vão mais longe que a viagem no próximo feriado, ou a balada de hoje a noite. Os amigos entre vocês são parecidos, ele gosta dos seus e você dos dele, vocês tem vontade de apresentar todo mundo, e juntar todos num grupo só. Todos se dariam bem. Vocês se encontram mais para se divertir, mas as vezes ele ajuda com outras coisas da vida também. É pau pra toda obra. A melhor companhia do mundo para shows lotados e eventos culturais concorridos.  Ele fez direito, mas trabalha com produção musical.  É das artes, ou corretor de imóveis, ou alguma profissão liberal, onde ele possa mudar os horários malucos. Mora sozinho ou com amigos tão legais quanto ele. Os pais estão na mesma cidade que ele. Se vocês terminarem hoje, ou melhor, deixaram de se ver, daqui há anos ele estará igualzinho, tão bonito quanto antes, com mais história pra contar, e mais mulheres no currículo, pois claro que é mulherengo e irresistível.

Porém

Mulher de porra loca, porra louquinha é. Além disso, será tudo muito surreal. Até quando você quer viver em Neverland?

Todavia

Sua pele vai melhorar de tanta alegria, mas pode piorar se você beber muito e fumar loucamente. Alegria e felicidade são parecidas mas diferentes.




O viajante descolado


   Hoje ele mora em Dublin, vai sempre a Londres, Bruxelas e vai passar três meses no Canadá para conferências e mais um curso de nome esquisito. Se espanta quando você conta novidades do Brasil de três meses atrás.  Estudou numa ótima universidade e é daqueles que são e vivem como estudante a vida inteira. Fez mestrados e doutorados pelo mundo, e apesar de ter se tornado um engenheiro químico, ou correspondente internacional, é super descolado. Vai aos melhores cinemas, assistiu a várias peças legais, subiu naquela montanha mais doida de todas e tomou sol naquela praia incrível. Te apresenta bandas do Oriente Médio e te dá uma revista em quadrinhos de um país você nem sabia que existia. Tem de escrever artigos longos complicadíssimos sobre a diferença do etanol e de novas opções de bio-combustíveis disponíveis e a real funcionalidade dos mesmos, em determinado país no bloco econômico em que atua até o ano de 2030. Você ouve tudo sem entender nada. E acha lindo! Fascinante. Ele traz um vinho delicioso, da última vez que visitou um cliente na Itália, e o harmoniza cozinhando muito bem, pois sempre viveu sozinho, sabe se virar. Conta seus planos de morar em Singapura e as vezes coloca você nesses (para ele super possíveis) devaneios. Logo ele conta que está só, há apenas um mês. Porque a ex-namorada espanhola acabou de se mudar para a Austrália. Fora que as vezes ele atende o telefone e fica falando com alguma gatinha em russo.

Porém

Pra dar certo com ele, você vai precisar de um passaporte europeu,ou de um visto de estudante.

Todavia

Num piscar de olhos ele pode ir para Finlândia fazer alguma pesquisa ou matéria, e deixar você arrasada, comendo macarons, fumando cigarros escuros, sozinha, num café em Paris.



O melhor !


Ele fala bastante dele. E dos amigos dele. E das impressões que ele tem do mundo. Conta da infância dele,  e de como é a profissão, e o dia- a-dia dele. É o preferido da mãe coruja que ele tem. Ele é religioso, o que pode ser ótimo. Finalmente ele pergunta de você!  Sem ter o que dizer de tão magnífico sobre si mesma, você tenta trazer algo simples, como a previsão do tempo para os próximos dias, o final de semana e o seu almoço hoje. Ele é super educado, família tradicional, faz comentários pertinentes. Mas diz que conhece um restaurante maravilhoso que cozinha esse prato que você diz ter comido, muito melhor do que qualquer outro cozinheiro. Você explica que almoçou com sua mãe. Ela cozinhou o prato. Por tanto, pra você, é impossível que alguém cozinhe melhor que ela. Ele sorri te dá um beijo, acha legal você valorizar a família, e pede desculpas pela sua mãe. Em seguida diz que de fato, não há como negar: o feito pelo cozinheiro dele é o melhor do mundo sim. Sem comparação. Para ele você nunca sabe o que está dizendo. “Você não sabe o que está dizendo!” Ele sabe! Você duvida do maldito cozinheiro, só de raiva! Ele é sarcástico, tem um humor muito sofisticado, bom gosto para tudo que existe na Terra! Um dia vocês combinam de ir comer o tal prato. No restaurante você concorda com ele, pra agradar. Você bebe o vinho  que nem cachaça pra ficar louca logo. Segundo ele este vinho é o melhor, j;a até ganhou prêmios. Ele é circuncisado. Você não consegue ignorar isso e não vê a hora de saber qual será a sua reação. É. A sua reação. A dele tanto faz. Hunf!

Todavia

Você vai ter de mudar alguns hábitos a fim de se tornar a melhor das melhores e mais perfeita namorado do mundo Isto será um desafio!

Porém
 Se acostume a dividir a conta. Ele quer você a melhor para se igualar a grandeza dele.



O culto

A casa dele parece um museu. Não é uma bela decoração, pelo contrário, tudo muito empilhado. Ele foi a tantos lugares incríveis no mundo e tem um pedacinho de cada canto que foi pela casa. De areia do Saara, á lembrança de pingüins da Antártida. Você tenta entender que diabos ele foi fazer na Antártida. Ele tem uma biblioteca fabulosa. E leu tudo, claro. Já encenou tantas peças, fez um filme premiadíssimo. É um homem fascinante. Imita argentino porteño e bonairense. É bem humorado mas as vezes inteligente demais, dá desespero! Você comenta que está fazendo uma pesquisa, lendo um livro importante e ele é amigo do autor. Velhos amigos! Estudaram juntos! Você descobre um cinema novo perto do seu trabalho com uma grade incrível de filmes bons, ele comenta que foi ele quem concebeu a idéia junto com o dono do espaço. O pior é que é verdade! Não há nada relacionado a ele que possa ser estúpido. Exceto o fato de que quando você não sabia de nada isso, ele era mais legal. Você sentirá como psiquê transando com Eros. Uma mortal se relacionando com um Deus grego! Ele corrige seu português. Mas você resolve não se incomodar, pois ele o faz com a sua super educação de lord dinamarquês do noroeste sul. Você pensa que pra ele as suas observações devem ser tão bobas e previsíveis como as de um mortal devem ser. Faz palestrinhas sobre um assunto que você considerava já encerrado e agora vê mais trezentas e cinqüenta e sete novas possibilidades. Ele muda suas opiniões. Você vai economizar tempo de ler algumas coisas. Peça pra ele contar a peça e ele conta com o maior prazer e empolgação. Você também irá as melhores festas, lançamentos de livro e pré estréias da cidade.

Porém

 Ele dá várias mancadas gravíssimas como homem. Pois no final das contas  o que ele precisa ser  pra você, acima de qualquer outra coisa,  é homem! Absolutamente nada mais que isso. Mas você acabará perdoando pra ficar mais um pouco ao lado de alguém que te ensina tanto. E vai se sentir burrinha as vezes. Sensação nada boa. Fascínio perigoso, te fugirá o controle. Vai dar um medo danado.

Todavia

 Você nunca irá entender o que ele viu em você.  Pior, ele nunca entende o que você quer dele. Nesse ponto o culto se assemelha ao “porra loca tudo de bom”. Acaba ficando tudo por isso mesmo, pois ele é super inteligente e não força nada. E a relação se esvai, numa boa.



O rico irresponsável


Ele tem um belo de um carrão, e corre com aquele troço com você dentro, te pondo em risco! Faz isso numa avenida como a Rebouças. Sim, é possível correr na Rebouças. Com ele é. Pois não respeita as faixas de ônibus, nem os semáforos. Vai pelas adjacentes e como num passe de mágica, ele chega ao pódio, depois de costurar tudo. Não se importa nem com o fato de você estar com o coração pulando na mão. Nem com as dezenas de multas que ele recebe por mês. A secretária paga tudo depois mesmo. Ele trabalha na empresa do pai. Diz que trabalha pois nunca está lá. Também ajuda a administrar as propriedades da mãe. E está pensando no que vai investir as dele. Talvez numa balada nova em São Paulo, que sem sombra de dúvidas vai bombar e tudo vai dar certo. Ele não recicla. Mora num apartamento cujo a portaria parece um shopping.  Tem lá uma alameda de serviços, que sem ela, ele não vive. A decoração, foi algum famoso arquiteto que fez.   Consome alimentos e bebidas despreocupadamente com a origem, a época, o valor então, nem conta.  O dinheiro o protege de tudo, ainda mais no Brasil. O legal é que ele vai deixar você dirigir uma Porsche na Imigrantes sem carta de motorista! Você vai dizer “não imagina, que isso...”,  e ele é quem vai insistir. Praia, tomando sol, você vê um barquinho. Ele percebe você olhando e proporciona o iate para o final da tarde. E também deixa você dirigir.  Mas não tem significado nenhum, não custa nada. Não custa nada. Não há muquiranagem oque o difere de “o melhor”. Ele tem coração, isso vale muito. Fica feliz de ver que está fazendo você se divertir. Ainal tudo isso pra ele é bem normal. Ele podia fazer algum trabalho de caridade. Mas não faz nada. Diz que “não tempo pra isso”.   Tem tempo sim. Se tempo é dinheiro, uh se tem.

Todavia

 Let’s living La vida loca!  Calcinhas vermelhas com saia curta, batom forte e cara blazê, começarão a fazer sentido pra você. Será no mínimo divertido. Nada como segurar uma taça de champagne cara e fazer carão.

Porém

 Você terá medo de ser uma espécie de troféu esquisito. E troféu não se compra, se ganha.


O canela fina

  Diz a lenda que o homem de canela fina é aquele que dança bem. Não importa sua classe social, profissão, trata-se somente de ser cheiroso e bailar com você pelo salão, lindamente. O canela fina é da mesma espécie que o surfista. Os surfistas podem ser o que for, eles são surfistas e ponto final. O fato de estarem surfando de fazerem o movimento com o pescoço aonde mergulham a primeira vez ao entrar no mar, ao passar a arrebentação, o modo de abrir a boca para respirar, é isso. Puro hedonismo. Nada mais. O canela fina pode até trazer uma bebida, ter ou não papo bom. Gente, ele só precisa te olhar nos olhos durante a dança e já está tudo certo como 2 e 2 são 5. Depois de horas viajando em seus braços, você vai querer tomar uma ar com ele na varanda e vai beijá-lo e vai ser lindo. A lua na fase em que estiver vai ilustrar o cenário perfeito. Tudo que vocês falarem vai fazer parte daquele contexto, vai combinar com a cor da saia e com a temperatura do drink. Ele mora longe! Talvez você não o veja mais! Tem que ser hoje, pois talvez você esteja sonhando, ele não pode escapar!  Se ele disser qualquer coisa que você não concorde, vai achar bonitinho que ele ainda pense assim e exaltar que conviver com diferenças de pensamento é muito importante. É estar apaixonada, embevecida, música, luz, câmera, magia. E som na caixa.

Todavia

 Há há há há há, mas eu to rindo a toa, não que a vida esteja assim tão boa, mas um sorriso ajuda a melhorar...

Porém

  Amanheceu. Você acorda: “Ahhhhh!  Desculpe, bom dia. Como é mesmo seu nome? A gente pensa que não mas xiboquinha dá ressaca mesmo né?  Hehe... tsc.”. Disfarça e some.


O músico

  Eis o mais desonesto de todos, ou melhor, a mais desonesta comparação de todas.  Músico não vale...  É demasiado encantador, ele toca um instrumento. Sabe hipnotizar pessoas com melodias e poesia, é muita artimanha para um homem só, por isso digo que é desonesto. Vai te observar em silêncio. É sensível suficiente pra saber o que quer ouvir. E ao cantar vai fazer aquelas caretinhas de feliz que os músicos fazem, ou pior, as carinhas de anjo enquanto estão concentrados tocando. Se ele cantar junto então pode esquecer. Você não terá a menor chance de se manter no controle. E também se não cantar, a timidez de um músico que não canta, tem outro efeito igualmente macumbeiro. Ver o namorado músico no palco enquanto as mulheres na platéia se deleitam por ele, dá uma falsa sensação de poder que vicia. O interessante é que ele é original, tem milhões das melhores influências, mas é super ele mesmo, quase não vai jogar com você, é extremamente honesto! Até demais... Se ele fizer alguma coisa errada vai dizer, dar uma explicação dentro da lógica de músico dele, que fará sentido e mesmo que você não queira, ache absurdo, vai aceitar! Por que se não vai perdê-lo. E você gosta dele assim mesmo.  Apaixonada por um desse você vai querer tê-lo. Ser mais amada que aquela guitarra que você já tem ciúmes, poisfica mais tempo nos braços dele que você. Ele também quer que você o queira. Até você querê-lo muito. Depois não gosta mais que o queira tanto assim. Pois ele precisa circular naquela energia da liberdade bohêmia pra compor, pra seguir sendo ele, que é o exato o motivo, quase místico, de ter ele te conquistado. 

Porém

 Você vai se sentir a June de “June and Carter” e vai descobrir todas as novas versões das canções. Não tenha dúvida de que você estará como musa nas próximas canções dele. Fato.

Todavia

 Ele pode um dia te explicar calmamente que não foi traição, o fato é que a moça era uma cantora muito especial e é “só “ isso que ele vê nela, nada mais. Ui! Pois é... São em geral, bichinhos lindos, verdadeiros e infiéis.


O casado

Evito julgar as pessoas ao máximo que posso, mas o casado, pra mim, é das roubadas a maior. Parece droga: você sabe que faz mal, que destrói, leva de mal a pior, mas por mexer tanto com você, é difícil parar por mais que queira. 24 horas! Só por hoje! E lá está você de novo as escondidas com o cafajeste. Cada hora num local diferente, interessante e escondido.  Ele comprou um celular só pra você poder ligar pra ele quando quiser. Faz você se sentir num filme de ação. Você criou a ilusão e acredita piamente que é o homem certo na hora errada. Simplesmente ele é o mais perfeito de todos que você já teve, você pensa: fazer o que? A vida é dura mas você por algum motivo louco de meu Deus, idealizou que é dele o melhor sexo, que é ele o pai perfeito para os seus filhos,  é  quem vai finalmente vai te fazer feliz de uma vez por todas nessa vida. Clássica obsessão. Tem até perfume caro com esse nome: obsessão. Talvez porque ele faça promessas de que vai largar a outra por você. E mesmo que não faça você tem essa projeção maluca dentro de si. Afinal quem deixaria uma mulher linda, filhos lindos, entraria num perigo desses dentro da nossa sociedade, numa aventura daquela, só pra ficar quinze minutinhos: com você. Ninguém mais só você. O ego. Por isso a semelhança com a droga. Nada amacia mais o ego tão falsa, perfeita e rapidamente como droga ou homem casado. É como uma peça de teatro: paga pra ser iludida, porque ser iludido, quando se gosta da sensação que ilude, é muito bom. Você pensa sozinha: “mas ele não gosta ela, e deve ser horrível ser casado com quem não se gosta...”- e se sente boazinha por estar “ajudando” o pobrezinho desajustado a se sentir um pouco melhor. Tsc, tsc, tsc...

Porém

 Ele não vai ter ciúmes absurdo, pelo contrário o pouquinho que tiver você vai até gostar. Se ele tiver muito é maluco mesmo e vocês devem se internar juntos!

Todavia

 Menina: não faça com os outros o que não gostaria que fizessem com você. Já dizia o Newton se subiu tem que descer! Quando ele deixar a esposa por você, vai acabar todo esse fogo e ele vai perder a graça.



O publicitário


As vezes faz propaganda de si mesmo sem perceber. Os publicitários são divertidos descolados, alternativos. Tentam ser? A casa dele parece uma instalação da Casa Cor. Pode estar de camiseta de banda de rock ou num terno chiquérrimo maravilhoso, depende da reunião de hoje. Depende do gosto do cliente. Ou da cliente. Sabem de tudo um pouco. De tudo mesmo, qualquer assunto. Nenhum a fundo. Vestem-se muito bem, melhor que os próprios modelos. Tem o corte de cabelo da moda, tendência, paleta de cores, sabem  o que é in e o que é out. São artistas frustrados. Ou apaixonados por dinheiro mais que pela arte. Vendem suas idéias e preferências. Mudam a preferência de acordo com a tendência. Aí que mora o perigo minha amiga. Se você deixar de ser in, ferrou. Todo esse mundinho é muito importante pra eles. Pra não dizer a casca de fora, o que eles gostam é de ver como você se expressa no mundo. Ou seja, diferente do gay desavisado que vê sua alma, o mais profundo que um publicitário vê em você é a sua lingerie Victoria Secret. Prepare-se para as festas mais chiques e bem patrocinadas da sua vida. E para ter um monte de brindes exclusivos na sua casa. Eles adoram esta palavra: exclusividade. E por amarem tanto a tal exclusividade, eles esperam que os amigos deles os invejem. Desejem você. Você entrará em competição com as namoradas dos amigos deles. Em segredo eles ficam pensando qual é a mais gostosa. Quem deles se deu mais bem que o outro. Procure viajar pra fora e trazer algo que ninguém viu aqui no Brasil. Nossa ele vai pirar mais que um beijo demorado! Se você for inteligente, vai impressioná-lo o tempo todo. Eles adoram.  Mas se não for, trate de ser linda! E rica de preferência.

Porém  

Você vai entender o poder da sedução em 30 segundos, tempo das propagandas publicitárias. Vai decorar melhor sua casa, vai descobrir que é descolada! Que já sabia tudo isso, e sempre pagou bem menos pelas mesmas coisas sem a marca que as encarecem.

Todavia

 Você não poderá sair de moda jamais! Se engordar uma grama, ele vai notar. A celulite vai tinir como unhas riscando o quadro negro dele.



O gay desavisado


Ele é o cara mais legal do mundooo!  Tudo que a gente sempre quer é que um homem nos entenda sabe?  Além de entender tudo, ele é parceiro. Voces fazem compras juntos, cozinham e fazem juntos a tal dieta miraculosa. A corrida matinal que sem ele te acordar as seis da manhã você jamais conseguiria sozinha.  Acompanha suas conquistas, te dá os melhores conselhos, te ouve, entende, ajuda. Compra o absorvente que você gosta, traz chá com ponstan e bolsa de água quente quando você está com cólicas. Nunca na vida ele comprou o remédio errado ou botou uma grama de  açúcar demais no chá. Faz o melhor capuccino do mundo. Uma gracinha. Vces dançam juntos a música da Beyonce e caem na risada no sofá. Vão jantar nos melhores restaurantes, ele é muito refinado. Elogia a cor do seu esmalte. Você sente saudades dele o dia o todo! Finalmente no fim de semana vão viajar pra praia mais incrível e badalada que tem. Ele está um gato com aquele óculos escuro da Gucci,  uma delícia com aquele cheirinho de Australian Gold, e depois do décimo Hi-Fi na praia , na aba do seu chapéu chique que ele te deu. O sol já está se pondo vces já trocaram milhões de olhares e celinhos, vc não vai pegar mais ninguém nessa praia. Vc não vai conhecer ninguém mais carinhoso. Vc vai, e o beija. Ele treme um pouquinho, estará ele nervoso?  Vc abre os olhos continua, ele não se move e de repente no meio do beijo rola com vc fazendo a areia  grudar na baba do rosto. Ah foi lindo, vai!  Vocês levantam se abraçam, vão correndo para a água que nem duas crianças e o beijo salgado nas águas de Yemanjá, meu rei!  Resumindo: vces decidem namorar. Quando voltam a SP no Porsche Cayenne preto dele ,  chegam no apê super cheiroso e mega bem decorado. Bêbados vão para o quarto. É chegada a hora do veredicto e até agora está indo tudo muito bem. De repente ele pára. Olha nos seus olhos com toda a força da paixão que sente e diz: “eu gosto de você, mulher inteligente, linda... e ativa. Vc sempre foi ativa não é? Desde que te conheço você sempre foi assim linda e ativa. Vc segura a onda de ser assim ativa pra sempre?”  Vc concorda. É lógico sempre foi linda e ativa, e nunca se importou com isso.  Fica feliz de alguém notar e te dizer isso. Ele repete:    ” Vc se importa de ser assim ativa sempre, de nunca mudar...”  Você quase chora de emoçÃO. Finalmente um homem pede pra você nunca mudar?  Que beleza.  Então ele vai pro banheiro da super bela suíte e volta com aquilo. Antes mesmo de começar o sexo ele já te mostra aquele objeto que é pra você na hora certa lá, comer o seu namorado.

Todavia

 Vc disfarça pra não chorar na frente dele, beija-o, ou melhor, encosta os lábios nos dele, e vai embora. Imediatamente.

Porém

 Não se preocupe a amizade vai voltar depois. Afinal eles são super liberais e compreensivos. Só não sinta ciúmes da próxima desavisada tentativa que aparecer na vida dele. A próxima “deeeusa” que na verdade, ele queria é ser!


O filho

Ele é um fofo! Tem uma boa textura. Cheirinho delicioso, um abraço, um cabelo gostoso de mexer. A vontade é apertá-lo, e mordê-lo o tempo inteiro. Vocês tem várias coisas em comum, muitas vezes você se verá nele e muito provavelmente ele se verá em você. Vocês trocam informações muito preciosas um com o outro o tempo todo. Tem profissões parecidas, se completam, se ajudam. Te faz carinho e você nele. Na verdade massagem específica para o músculo que está doendo. Você se comporta como médica, terapeuta do rapaz, quer cuidar, educar, dar casa, comida e roupas novas. Sente muito ciúmes das meninas que se aproximam. Você vai assistir filme na casa dele e ele não tenta te comer! Ele descobre uma vaga de emprego na internet e te liga, te passa os contatos e se você precisar vai com você até lá, ou te empresta o carro dele, pois será dia do seu rodízio e ele sabe disso.  Contanto que você vá com ele caminhar no parque. É que se você, ou alguém não for com ele , ele não vai. Ele faz chantagens emocionais. Você odeia caminhar no parque. Mas vai. Ele quer emagrecer, você sabe disso, não pode perder a oportunidade de ser alguém importante nas conquistas dele.  Você adora aconselhá-lo! E adora ouvi-lo também.  Mas aí ele faz uma coisa errada, e você briga muito com ele, e o põe de castigo! Mas leva a comida que você cozinhou na casa dele. Ele compara o tempero do seu rango com o da mãe dele. É a primeira pessoa da sua vida a elogiar sua comida. Diz nunca ter comido nada igual. E nada de comer você. Mas tudo bem! Vocês se beijam. Ele é um pouco tímido com ações físicas, mas bom com palavras. E com aquela cara de ursinho fofo, gut-gut que ele tem. Você pensa que ele é um homem! Mas quando ele faz vozinha de menino, por algum motivo você pira. Afinal ele te mima também.  Mostra os textos dele pra você avaliar e você fica orgulhosa de conhecê-lo! Você quer vê-lo bem, vencendo! Torce para que tudo dê certo na vida dele, e quando ele falha você acha que falhou! Você quer pegá-lo na escola encher a sua bola com todo seu amor!

Todavia

Será confuso pensar em engravidar. Você sente que já tem um filho!  Vai entender os casais grudentos que se amam de verdade. Pois amor verdadeiro, já diziam os caminhoneiros, é o amor da mãe!

Porém

Ele vai te irritar, pois filhos são irritantes, pedintes e insistentes. E essa dependência que se criará entre vocês dois, uma hora vai encher o saco. Como uma criança chorando porque quer o raio do pacote de biscoito antes do jantar.