Esta é a segunda vez que faço uma viagem muito legal, demasiada de boa, e perco a câmera com os momentos registrados. Ainda bem que era baratinha e que as caras eu não perco. Ainda bem também que tenho uma ou outra foto de máquinas de outrem. E ainda bem ainda, que tenho boa memória!
Primeiro café da manhã com mamãe, depois de mais de meses viajando. A primeira coisa que conto é que perdi além da máquina fotográfica, meus óculos. Preciso fazer lentes novas.
– Aonde você perdeu?
- Em Paris. Os óculos e a máquina.
- Pelo menos foi em Paris. - Continuei quieta tomando o café sem entender muito bem a resposta de minha mãe. Pensei que perder os óculos e a máquina em Portugal seria menos mal, pois já que o país não está muito bem por causa da crise, talvez alguns dos tantos desempregados, um especial com astigmatismo, poderia achar os óculos e se beneficiar, afinal eram bons e bonitos. No caso da máquina talvez uma viajante, distraída como eu, encontrasse por acaso a máquina e fosse fotografar o namorado dela num dia de sol, sabe-se lá.
Não demorou muito e percebi o sentido da frase “Pelo menos foi em Paris.” Qualquer coisa em Paris é o máximo! Passei frio, fome e quebrei o pé em Paris. Gastei mais do que devia, nada de nenhum "affair", perdi o chip do celular e o guarda-chuva no Quartier Latin. Manchei de café minha Long Champ novinha, que tinha acabado de comprar! Nem podia comprar, cara que era, comprei e a manchei. Fumei demais em Paris, gastei tudo naqueles cigarros brunets, ruins, caros, porém os mais baratos que tinha. Fiquei com dor no pulmão e no estômago, tanto que vomitei horrivelmente a Champgne Rosé que eu minha amiga compramos para beber sozinhas, no Trocaderó. Gente, estávamos sozinhas, bêbadas, sem casa! Uhu! Que demais! Que inveja! É capaz de alguém dizer. Só porque foi em Paris, muda tudo?
Eu e minha queridíssima parceira de viagem gastamos bastante no começo e logo vimos que seria necessário mudar a passagem para antes e achar outro lugar pra ficar rápido. Pensamos que por ser a cidade que mais recebe turista no mundo, não seria grande coisa achar outro hostel ou hotel de estudantes. E no entanto, não achávamos nada. Tudo lotado mesmo.
É engraçado que quando as festas de Paris acabam, ou ainda estão próximas do horário de terminar, os donos da festa expulsam você do lugar. Simplesmente gritam alto para que todos escutem: “ Si’l vous plaît, dame et mounsieurs ! Sourtez maintenat tous vous!” Tradução : “Por gentileza senhoras e senhores, dêem o fora daqui, já! Todos vocês imediatamente!” Assim mesmo. Ou pior. Fazem isso no comércio também. Não importa se você está gastando fortunas na loja, na padaria, aonde for, se a mesma estiver perto de fechar, vem a vendedora brava e diz gentilmente com os olhos de serial killer: “Vamos fechar em 15 minutos, escolha logo que diabos você quer, e vá embora". Pois bem. Se são assim na noite, no comércio, eu tentava imaginar como seriam, e eu ía oque fazer, na seguinte situação: hotelzinho aonde faltavam 15 minutos para o check out! E nada de acharmos lugar em hotel nenhum.
Não podíamos ficar mais e não queríamos ser expulsas do hotel, pois somos chiques, iríamos sair no tempo correto com dignidade, como mandava a regra, e assim o fizemos. Finalmente depois de muita procura desesperada encontramos um único lugar. Só que ficava praticamente na própria avenida Champs-Elyséss. Significa Campos Elíseos que não lembra nadinha o Campos Elíseos da minha humilde cidade de São Paulo onde nasci.
Estávamos no segundo metro quadrado mais caro da cidade mais cara de todas. Era um hotel chiquérrimo. Mesmo. De verdade. O chuveiro trocava de cor durante o banho, assim a água era colorida. Tínhamos um pátio com um jardim, só pra gente. Um moço de guarda-chuva nos acompanhava até a porta toda vez que saíamos como se fosse um segurança. Como íamos pagar aquilo? Pois. Economias servem para isso mesmo.
Teve um momento que me ligaram no celular e eu disse : “Sim, claro. Nos encontramos então mais tarde, agora tenho de pegar esse barquinho no rio Sena até a Saint Germain des- Prés e depois passar na minha casa na Champs- Elysée. Gente, quando vou dizer aquela frase de novo? E em francês. Em francês qualquer desgraça fica chique.
Pode doer o bolso, o coração, mas tudo chique, tudo lindo, cheio de tanta luz que nem precisava mais dos óculos perdidos para enxergar tanta beleza.Teve problemas? Uh lá lá! Pelo menos foi em Paris, pois então, seguramente foi ao menos: tudo muito bonito.