sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Quelque chose au Paris


  Esta é a segunda vez que faço uma viagem muito legal, demasiada de boa, e perco a câmera com os momentos registrados. Ainda bem que era baratinha e que as caras eu não perco. Ainda bem também que tenho uma ou outra foto de máquinas de outrem.  E ainda bem ainda, que tenho boa memória!
  Primeiro café da manhã com mamãe, depois de mais de meses viajando.  A primeira coisa que conto é que perdi além da máquina fotográfica, meus óculos. Preciso fazer lentes novas.
 – Aonde você perdeu?  
- Em Paris. Os óculos e a máquina.
- Pelo menos foi em Paris.  - Continuei quieta tomando o café sem entender muito bem a resposta de minha mãe.  Pensei que perder os óculos e a máquina em Portugal seria menos mal, pois já que o país não está muito bem por causa da crise, talvez alguns dos tantos desempregados, um especial com astigmatismo, poderia achar os óculos e se beneficiar, afinal eram bons e bonitos. No caso da máquina talvez uma viajante, distraída como eu, encontrasse por acaso a máquina e fosse fotografar o namorado dela num dia de sol, sabe-se lá.
  Não demorou muito e percebi o sentido da frase “Pelo menos foi em Paris.” Qualquer coisa em Paris é o máximo! Passei frio, fome e quebrei o pé em Paris. Gastei mais do que devia, nada de nenhum "affair", perdi o  chip do celular e o guarda-chuva no Quartier Latin. Manchei de café minha Long Champ novinha, que tinha acabado de comprar! Nem podia comprar, cara que era, comprei e a manchei. Fumei demais em Paris, gastei tudo naqueles cigarros brunets, ruins, caros, porém os mais baratos que tinha. Fiquei com dor no pulmão e no estômago, tanto que vomitei horrivelmente a Champgne Rosé que eu minha amiga compramos para beber sozinhas, no Trocaderó.  Gente, estávamos sozinhas, bêbadas, sem casa! Uhu! Que demais! Que inveja! É capaz de alguém dizer. Só porque foi em Paris, muda tudo?
   Eu e minha queridíssima parceira de viagem gastamos bastante no começo e logo vimos que seria necessário mudar a passagem para antes e achar outro lugar pra ficar rápido. Pensamos que por ser a cidade que mais recebe turista no mundo, não seria grande coisa achar outro hostel ou hotel de estudantes. E no entanto, não achávamos nada. Tudo lotado mesmo.
 É engraçado que quando as festas de Paris acabam, ou ainda estão próximas do horário de terminar, os donos da festa expulsam você do lugar. Simplesmente gritam alto para que todos escutem: “ Si’l vous plaît, dame et mounsieurs ! Sourtez maintenat tous vous!”  Tradução : “Por gentileza senhoras e senhores, dêem o fora daqui, já! Todos vocês imediatamente!”  Assim mesmo.  Ou pior. Fazem isso no comércio também. Não importa se você está gastando fortunas na loja, na padaria, aonde for, se a mesma estiver perto de fechar, vem a vendedora brava e diz gentilmente com os olhos de serial killer:  “Vamos fechar em 15 minutos, escolha logo que diabos você quer, e vá embora".  Pois bem. Se são assim na noite, no comércio, eu tentava imaginar como seriam, e eu ía oque fazer, na seguinte situação:  hotelzinho aonde faltavam 15 minutos para o check out! E nada de acharmos lugar em hotel nenhum.
 Não podíamos ficar mais e não queríamos ser expulsas do hotel, pois somos chiques, iríamos sair no tempo correto com dignidade, como mandava a regra, e assim o fizemos. Finalmente depois de muita procura desesperada encontramos um único lugar. Só que ficava praticamente na própria avenida Champs-Elyséss. Significa Campos Elíseos que não lembra nadinha o Campos Elíseos da minha humilde cidade de São Paulo onde nasci.
  Estávamos no segundo metro quadrado mais caro da cidade mais cara de todas.  Era um hotel chiquérrimo. Mesmo. De verdade. O chuveiro trocava de cor durante o banho, assim a água era colorida. Tínhamos um pátio com um  jardim, só pra gente. Um moço de guarda-chuva nos acompanhava até a porta toda vez que saíamos como se fosse um segurança. Como íamos pagar aquilo? Pois. Economias servem para isso mesmo.
  Teve um momento que me ligaram no celular e eu disse : “Sim, claro. Nos encontramos então mais tarde, agora tenho de pegar esse barquinho no rio Sena até a Saint Germain des- Prés e depois passar na minha casa na Champs- Elysée. Gente, quando vou dizer aquela frase de novo? E em francês. Em francês qualquer desgraça fica chique. 
  Pode doer o bolso, o coração, mas tudo chique, tudo lindo, cheio de tanta luz que nem precisava mais dos óculos perdidos para enxergar tanta beleza.Teve problemas? Uh lá lá! Pelo menos foi em Paris, pois então, seguramente foi ao menos: tudo muito bonito.


segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Restaurante


  Significa um lugar que restaura, torna novo de novo, oque estava a se desgastar. Restaurante é tudo de bom, eu amo. Minha família sempre teve restaurantes e eu sempre trabalhei neles e nos dos outros também.  É para pessoas, oque  um posto de gasolina é para os carros: você vai lá para reabastecer e poder continuar circulando mais tranquilo pela cidade.
  Ser bem cuidado, bem recebido, servido, alimentado. De comida, sabores, cores, risos, boas notícias, bons amigos. O posto de gasolina, já que resolvi comparar, também acabou virando um ambiente de restauração. Restaura você e seu objeto de locomoção (carro). Você chega, abastece o bichinho (carro), aproveita e compra uns docinhos, cigarro, dá uma olhada de “fora” na cidade, ouve o barulho dela de outro ponto de vista e de escuta. Afinal o barulho que entra no carro misturado com o da rádio é diferente. Estica as pernas, checa as revistas de fofoca com aquelas letras grandes na capa, com frases chamativas e fotos de: famosos com problemas, famosos casando, famosos traindo, famosas grávidas. De madrugada os postos de gasolina ficam cheios de adolescentes bebendo, restaurando a cabeça... ao menos é oque ali intentam.
  A hostess chega para trabalhar no restaurante e o telefone já toca loucamente. Início de fim de semana. Restaurantes e postos de gasolina enchem nas metrópoles. Todos querem a restauração, todos querem abastecer. A lista de reservas começa a crescer e os lugares disponíveis a diminuir.
 No telefone os clientes são super bonzinhos, um pão doce com recheio quente e açúcar em cima!  Pedem com todo amor e carinho pela mesa mais difícil da casa. Alguns investem tempo contando oque exatamente é a noite de hoje ( ou do dia escolhido da reserva)  e fazem questão de explicar tim tim por tim tim o quão importante é para eles a data. E claro, o quanto este restaurante que ele escolheu dentre tantos outros em São Paulo tem : a melhor comida,  pessoas,  serviço... Tudo maravilhoso, lindo, a restauração que ele precisa.

-Poxa eu gosto tanto do Pereira (maitre)! Ele está aí? E o garçom Postura? Posso ficar na praça dele? Soube que Aninha entrou de férias.- Dizem qualquer coisa que os faça parecer amigos muito próximos. E são mesmo. Amamos nossos clientes. O problema é que as vezes eles chegam com fome. As pessoas mudam quando estão com fome.  Vamos esclarecer uma coisa pra a população, gente, fiquem calmos antes de qualquer coisa na vida. Estão certíssimas as aeromoças. Elas sempre dizem cheias de gentileza: “Em caso de qualquer problema, por favor, mantenham a calma, obrigada". Ou seja, avião pode estar caindo, e você provavelmente vai morrer, ainda assim, mantenha a calma!  É a única coisa que de fato ajuda em todos os casos. Mas ele quer seu direito de reservado e de ser restaurado, imediatamente! Tenho muitas histórias de restaurante da vida de hostess. Mas antes quero primeiro estar dentro de um agora. Sem combustível não posso escrever, nem postar nada, nem divulgar lhufas. É a tal pirâmida de Maslow, preciso comer, já. Vou a um restaurante neste exato momento, restaurar minha situação. E não tenho reserva. E estou numa metrópole, que não é nem a minha! Mas hoje, se sou o cliente, quem manda sou eu, certo? Tomara.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Moda VOLL: Tem moda tamanho maior?

Moda VOLL: Tem moda tamanho maior?

A Estréia


  O primeiro qualquer coisa, a gente nunca esquece. Fato. Os últimos serão os primeiros! Dizem. Fato também?
   Estréias são irresistíveis, a novidade é uma loucura. Amo as estréias de teatro por exemplo, mais do que as de cinema até, por vários motivos. Primeiro, porque quase sempre tem um boquetel = boca livre + coquetel. Comidinhas, bebidinhas e gente interessante, de graça, é legal. Segundo porque é glamuroso o fato de eu estar sendo parte da primeira sala a encher para assistir a peça antes de todo mundo da cidade. Tem os formadores de opinião, com comentários inteligentes e etc. Engraçado é que geralmente, as melhores apresentações são na verdade as últimas. Bem, estou sendo a última de meus amigos a fazer um blog. Este aqui. Faço primeiramente, por livre espontânea pressão social, profissional? E pessoal. Se todos tem porque eu não tenho também? Oras.
   Sou a primeira filha de um jovem casal de músico com empresária, e a primeira neta de um também jovem casal de avós. Avós são avós, classificação universal. Minhas duas irmãs vieram depois que eu já estava grandinha, oque possibilitou-me ver bem a diferença de como é ser a primeira filha e a primeira neta em uma família. Cobaia. Isso mesmo. Oque não funcionou comigo, não foi usado nos seguintes, e oque funcionou foi repetido. Desde o fator genético  até a educação deles (irmãs e primos) eu percebo que é bem mais elaborada, digamos assim. Devo lembrar a responsabilidade que carrega qualquer estreiante, de ser o exemplo, a referência no mínimo estilística para os seqüenciais que virão, conseqüentemente, após este primeiro.
  Minha mãe diz que tudo na minha vida, eu demoro um pouco mais pra fazer. Fui a última das minhas primas e amigas a ficar “mocinha” (que termo brega, não achei outro). Serei a última das filhas a casar e ter bebês (que vergonha, elas são bem mais novas!).
 Já repararam que o slogan de quase todas as estações de rádio, é “a primeira!” em alguma coisa?  Também ainda não aprendi a cozinhar muito bem sozinha. Ainda estou aprendendo dirigir sem colocar em risco a vida dos outros e de todo trânsito a minha volta. É que eu muito me distraio no tempo ao redor...
   Meu primeiro argumento crônico é o frio na barriga de qualquer estréia. O medo do julgamento quadruplica. É como entrar no mar. Você está na areia quentinha, a pele esturricada de sol, vê o mar chamando. Vai até ele que ela gela os seus pés. A água é fria que só... Você avista uma onda que está lá no fundo ainda, e pensa: quando aquela onda chegar aqui, eu furo de cabeça! E quando ela chega, você sai correndo para a areia que nem criança, rindo muito, é como cócegas. Então você volta aos poucos, devagarzinho. Esta cena se repete pela vida toda. Quando consegue superar a inércia e finalmente mergulha na água com tudo, no mar de meu Deus, nossa...  Toma o primeiro fôlego. Agora é só sair nadando. Seu corpo já é outro. Você tem vontade de ir até a ilha do outro lado! Isso porque estava com medinho de molhar os pés...   É quase como amar de verdade. Mas isso é outra história.  A segunda? Pode ser, mas só agora já teve a primeira.